terça-feira, 13 de março de 2012

"novos autores e novas escritas em Portugal" parte dois | o marketing do livro

As razões da escrita são quase em mesmo número que os escritores. Cada escritor escreve por razões diversas, cada um com as suas. Mas há objectivos que se misturam com consequências naturais da escrita. A escrita de que aqui falamos (que não é de todo a maior parte do que é realmente escrito e visto como tal) é a que é publicada. A que chega a nós através dos novos autores. A publicação pressupõe a venda de livros. A venda pressupõe que alguém faça um negócio posterior ao acto da escrita. Aqui entram em conflito diversas questões. Como em qualquer negócio é necessário efectuar vendas. Para que editoras e livrarias possam sobreviver. Há poucos escritores a viver de livros, apesar de haver muitos a viver do que anda à volta da escrita - prémios, crónicas em jornais, conferências e outros convites. A ideia de best seller é hoje uma ideia muito deturpada e diferente do que era há uns anos. Hoje há mais leitores. Toda a gente lê um livro, o que não acontecia há 30 / 40 anos atrás. Assim, no momento em que a leitura se massificou, muitos leitores "novos" procuraram "conselhos" de leitura fora de circuitos familiares e próximos pois muitas vezes quem os rodeava não tinha os mesmos hábitos de leitura. Assim tornou-se cada vez mais importante apostar no marketing do livro. Hoje é certo que um livro que seja referido positivamente em jornais ou revistas de grande tiragem, ou num telejornal de um canal de televisão com muita audiência é um livro que vai vendrer muito nesse dia e dias seguintes numa livraria. Uma questão importante é qual a diferença entre quem lê e quem compra, visto ser claro que não é, de todo, a mesma realidade. Há uns anos atrás o brilhante livro de Cortázar, Rayuela, traduzido pela Cavalo de Ferro com o nome de Jogo do Mundo esteve várias semanas nos top's nacionais de vendas. Garanto que apenas uma percentagem muito pequena das pessoas realmente leu o livro (e quem o leu sabe porque digo isto). Para as vendas, efectivamente, o livro foi um sucesso. Mas sera que cumpriu o seu objectivo primeiro? E aí começam as perguntas. Qual é o objectivo da escrita? Chegar a alguém, ser lida. Sim. Mas será que para todos os escritores o objectivo primeiro da escrita é ser lido? Ou é a escrita em si? Aqui podemos entrar em conjecturas. E do alto da nossa infinita sabedoria de leitores podemos considerar que sabemos bem qual a diferença entre quem escreve "para vender / para ser lido" e quem escreve "para si próprio / pela própria escrita". O que é mais fácil de avaliar é que os contratos das editoras com os escritores os obrigam a fazer sair os seus livros com uma periodicidade mais ou menos fixa. Não acontece com todos. Nem significa que o livro que acaba de sair tenha acabado de ser escrito.
São muitas as variantes. Não podemos com isto esquecer que há também aquilo que o escritor diz. Júlio Magalhães nas correntes d'escritas deste ano, admitiu abertamente e de forma honesta que o propósito da sua escrita é chegar aos leitores de forma descontraída, sem grandes ambições literárias.
Podíamos discutir este tema sem fim, com muitas opiniões diversas, e chegar mesmo à apoteose da discussão quando começássemos a referir nomes. Mas este segredo está absolutamente guardado e inacessível. A nossa liberdade limita-se às conjecturas. E venham elas!

A conferência "novos autores e novas escritas em Portugal" acontece dia 23 de Março, às 21h30 no MAEDS, Avenida Luísa Todi, nº162, Setúbal, a convite da Synapsis.

segunda-feira, 12 de março de 2012

III Encontro Livreiro - já faltou mais

Já só faltam duas semanas para o Encontro Livreiro. Não é necessário repetir o que já aqui foi dito. Quero apenas reforçar a ideia de que não é um encontro "de livreiros" e sim um encontro "livreiro" (não digo isto por acaso, os mal entendidos são muitos), encontro de gentes do livro. É um dia de encontros e conversas boas, intervenções e amizades. Pessoas dos livros, e o mundo inteiro que isso significa. A Culsete tem espaço para todos.
A todos os que queiram propomos que nos enviem um texto escrito para o blog do Encontro, o Isto não fica assim. Falem-nos do tema deste ano, esperança no futuro da leitura, do livro e da livraria, escrevam e pensem em conjunto connosco. O mais bonito e, arrisco dizer, mais revolucionário deste encontro face a tudo o resto que existe por aí é que não tem mesas, nem convidados, nem palco. Tem pessoas e um microfone e uma livraria anfitriã.
Se quiserem podem dar o vosso nome e ocupação / profissão para registarmos os nomes dos nossos ilustríssimos presentes, para o e-mail encontro.livreiro@gmail.com. Claro que podem sempre aparecer sem registo!
Não posso deixar de relembrar a nossa homenagem ao querido livreiro Jorge Figueira de Sousa, que recebe neste Encontro o título de Livreiro da Esperança 2012 pelo trabalho único na divulgação dos livros e da leitura na sua livraria Esperança, no Funchal.  

Dia 25 de Março, a partir das 15h, todos a Setúbal. Já sabem que ofereço boleias!
Até lá!


terça-feira, 6 de março de 2012

"novos autores e novas escritas em Portugal" parte um | os autores e as pessoas


Este tema parece sobejamente falado e debatido. Desde os tempos de escola que se discute se fará diferença conhecer a vida do autor, as suas nuances pessoais, para o compreender melhor. Creio que a maioria responde que não, que a obra vale por si. Outros respondem que acrescenta dados às leituras e interpretações. Em autores como Fernando Pessoa a vida pessoal é a própria obra, ou melhor, aquilo que se considera saber sobre a vida pessoal pode bem ser obra. Serão sempre especulações. Em autores como o Luiz Pacheco a vida dele é tantas vezes mais conhecida do que a obra. E o amor que lemos na Comunidade é muito maior porque "aquele" Luiz Pacheco o sentiu e escreveu.

Mas quando falamos dos novos autores, nossos contemporâneos e, claro, vivos, podemos falar do que é conhecê-los, não só através de entrevistas e aparições públicas mas também pessoalmente. Um escritor nunca vai ser uma figura pública como as outras a não ser que não sejamos seus leitores. Mas tenho a ideia romântica de que só olhamos para um escritor enquanto tal depois de o ter lido. É como um segredo entre nós e eles. Nesse sentido aquilo que sabemos sobre ele será sempre mais do que ele sabe sobre nós. Esta, para mim, é uma das linhas que distingue um escritor muito bom. Quando estamos a falar com ele pela primeira vez e quase sentimos desconforto por saber que lhe conhecemos as entranhas. Que sabemos os cantos negros do que pensa, que lhe conhecemos a poesia. Quando sentimos carinho por ele nas primeiras palavras porque imaginamos que quem escreve aquilo tem de ser naturalmente encantador. Isto não é linear mas a mim nunca me enganaram. Até hoje. Os que se mostraram desinteressantes, vazios de sentido, os que pareceram figuras mais públicas do que de escrita são apanhadas em poucas linhas. Podem ter arte mas falta-lhes sangue. E um escritor tem de ter sangue no que escreve. Seja em forma de desenho, poema, texto infantil, ficção. Seja no que for, porque na sua medida única a escrita deve ser um espelho, uma história que existe no mesmo espaço que a folha e o escritor e depois com os leitores. Um escritor em bom faz-nos querer conversar com ele com uma folha escondida.
Só assim a escrita cumpre o seu objectivo final de passar uma mensagem, para quem a quiser receber. Porque um público deve escolher o seu escritor e não o contrário. Discordem de mim se acharem que não tenho razão. 


A conferência "novos autores e novas escritas em Portugal" acontece dia 23 de Março, às 21h30 no MAEDS, Avenida Luísa Todi, nº162, Setúbal, a convite da Synapsis.

“novos autores e novas escritas em Portugal” em Setúbal

Quem são os novos autores portugueses? O que os une e o que os separa? Em que nome escrevem e em que nome surgem em público? Numa época de novas tecnologias, novas formas de aparecer em público, crise económica, intelectual e ideológica, o que é preciso para se ser um escritor?

O século XXI trouxe novos paradigmas à literatura. A passagem de século é uma passagem temporal como outra qualquer mas a verdade é que foi neste início de século até aos nossos dias que assistimos à explosão da Internet com as redes socias, blogs e meios de divulgação. Com isto os escritores saem do desconhecido para se tornarem figuras públicas facilmente reconhecidas na rua e cuja vida privada acaba por ser conhecida e confundida com a sua obra de forma mais perversa do que antes porque o meio é, arrisco dizer, mais selvagem. Mas há excepções. E há diferentes tipos de leitores e, no limite, são os leitores que fazem uma grande parte do que um escritor é.
Depois podemos ainda reflectir sobre a razão da escrita. O que faz um escritor? Que tipos de escritores existem? O que nos confere autoridade para avaliar as intenções de um escritor? De que forma as intenções de um escritor alteram a forma como recebemos o texto e como o lemos?
Em Portugal proliferam novos escritores. Sofrem em bloco da “angústia da influência” procurando, a cima de tudo, a originalidade. A que custo? Em que nome escrevem eles?



23 de Março, 21h30

Synapsis e MAEDS apresentam


novos autores e novas escritas em Portugal
com rosa azevedo

MAEDS
Avenida Luisa Todi, nº162
2900-451 Setúbal