terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

o miúdo tem livro novo

e o lançamento é já dia 7!




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José Tolentino Mendonça

há qualquer coisa de inacreditável neste meu poeta. sempre admirei pessoas que se posicionam em sítios diferentes dos meus e que me encantam exactamente por esses posicionamentos. nunca é demais ouvir o Tolentino a falar da relação dele com a religião. a sua convicção e entrega fazem com que não nos seja possível não nos envolvermos no que ele diz. e depois gosto daquelas pessoas que fazem poesia até em listas de supermercado. deixo aqui três partes imperdíveis de uma entrevista que o Tolentino deu ao Sol. não é o melhor contexto mas enfim, fechemos os olhos.

1ª parte da entrevista

"Disse que tal como precisamos de pão precisamos do belo. Continua a dizê-lo?
Absolutamente. Há um slogan de um sindicato americano: ‘Precisamos de pão mas também de rosas’. No actual contexto de crise, de redução, de austeridade, de restrição, temos de dizer: precisamos de pão mas também de rosas. Falar da arte não é falar de bens supérfluos de que possamos abdicar. Tem a ver com o nosso projecto de pessoas, com o que queremos ser, o que nos faz felizes. Os bens não valem apenas pelo seu valor comercial. Se assim for o ser humano vale de facto 30 dinheiros. O que torna a nossa vida incalculável é sermos guardadores de coisas sem preço. Como dizia Keats, uma coisa bela é uma alegria para sempre.

É primeiro padre e depois poeta, é primeiro poeta e depois padre, ou a poesia e o sacerdócio são indissociáveis?
Perante uma folha em branco nós não somos nada. A folha em branco exige-nos esse exercício de ignorância. Estamos sempre a começar. O que somos não interessa, o que escrevemos não interessa. Interessa escrever a primeira palavra como se fosse a primeira palavra do mundo. Essa é a experiência da poesia."

2ª parte da entrevista

"O seu primeiro poema junta a Bíblia e Helberto Helder. É uma relação improvável?
As melhores relações são as improváveis, que existem sempre dentro de mim. A Bíblia é uma espécie de pátria. Mas a ela junto aquilo a que Borges chamava os novos textos sagrados, que são escritos hoje e transportam a ressonância mais íntima e transparente, a onda mais alta. São o ressoar dos nossos passos.

Quais são para si esses textos?
Gosto de Tertuliano a Blanchot, de Santo Agostinho a Michel Foucault ou a Michel de Certeau, da Bíblia a Herberto Helder, a Simone Weil, a Ruy Belo. De Gonçalo M. Tavares e Ana Teresa Pereira a Pavese, Natalia Ginzburg. A literatura e a escrita do mundo são uma espécie de alforges, andam sempre comigo.

Nas ditas relações improváveis.
Acredito que o que é pedido a cada um de nós é que sejamos originais. Acho que Deus nos vai perdoar tudo, as asneiras que fizemos, as incertezas, uma cretinice ou outra. Acho que Deus nos vai perdoar tudo. Só não nos vai perdoar não termos sido nos próprios. É tão importante. O Cristianismo precisa de pessoas originais, que vivam a sua vida, a sua singularidade. O meu sonho é que o mundo se encha de mulheres e de homens improváveis. Essa é a minha utopia."

3ª parte da entrevista

"Diz que é à noite que o bosque deixa de ser cegueira. Precisa do escuro?
A noite é um lugar muito importante na minha reflexão e na minha poesia. Não é por acaso que o título da minha obra reunida é A Noite Abre Meus Olhos. A noite torna-se a representação melhor daquilo que é a procura, o questionamento, a nossa condição. Não apenas a noite física mas aquilo que a noite pode significar, como contraposição, ou ligação, ao que é o dia, à nossa vida sistematizada ou organizada de um determinado modo. A noite é um campo aberto, fundamental para que a vida respire."






segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

solidão literária e auto-produção

há uns anos para cá decidi trabalhar sozinha. por muitas desilusões pessoais e profissionais mas sobretudo porque depois os projectos ficavam a meio e aquilo entristecia-me. é que deixar um projecto a meio encanita-me até à lua. no entanto a escolha de trabalhar sozinha é muito mais uma defesa do que uma escolha efectiva. detesto avançar, descobrir pérolas, imaginar um espectáculo, um curso, um evento sem ter ninguém com quem partilhar o que se vai passando. assim vou arranjando amigos (cada vez menos efectivamente) com verdadeira paciência para ouvirem o que ando a fazer. numa época em que as minhas pessoas se viram cada vez mais para dentro e para as suas vidas eu vou realmente ficando mais sozinha no processo criativo e no processo de crescimento de ideias. salvo honrosas excepções, claro, ainda esta semana num café com um amigo pedi para trabalharmos juntos só para que ele estivesse ao meu lado na altura em que eu tivesse (potencialmente) uma epifania. ele disse que sim. ele tem muita paciência para mim. é querido.

claro que para além disso tenho os blogs. se quiserem lêem, se não quiserem não lêem mas eu escrevo e partilho.
e hoje queria partilhar com vocês o meu novo processo de auto-produção, uma técnica muito aconselhada para quem tiver comportamentos obsessivos como o meu no que o obsessivo tem de positivo. uma técnica muito comum mas que eu vou agora teorizar, porque me apetece partilhar isto com vocês.
lembro-me de ter 7 ou 8 anos e já ser assim, auto-produtora do meu tempo. almoçava sempre à mesma hora, na casa da minha avó e sentava-me sempre à mesma hora na mesma cadeira, na mesma posição e fazia os trabalhos de casa até exactamente à mesma hora, que era cedíssimo, tipo 15h. depois saía porta fora e ia para casa das avós da I. brincar. que na casa da minha avó não podíamos nem mexer numa almofada na casa da avó da I. tínhamos um quarto só para nós e fazíamos bolos de terra. depois cresci e na escola era ultra organizada. era muito boa aluna mas não era excepcional no entanto nunca fazia noitadas, nunca tinha stresses, era tudo pensado antecipadamente como os produtores devem fazer. só descambou muito mais tarde, no mestrado onde trabalhava ininterruptamente das 8h às 23h quando caía desfalecida de cansaço, sem folgas nem fins de semana. aliás lembro-me muito pouco do que aconteceu esses meses, tenho um buraco na memória. mas até aí quando o Zink me disse que tinha de entregar a tese já no dia a seguir, dois dias antes do previsto, eu tive um colapso nervoso mas na verdade a tese estava pronta. eu é que não estava pronta.

no outro dia voltei a colapsar. fiquei duas horas a olhar para a televisão sem estar a ver televisão, a ver imagens e sons a passar e sem conseguir pensar em absolutamente nada. e então reavivei o processo de auto-produção que me tinha salvo na altura dos exames nacionais, ainda na escola. muita gente me pergunta como consigo eu fazer tanta coisa ao mesmo tempo, se tenho tempo para respirar e o que lhes digo é, sem qualqure falsa modéstia, que o que tenho para fazer não é assim tanto e faz-se muito bem ao longo do dia sem ter de abdicar de absolutamente nada. o dia é gigante se for pensado na totalidade. portanto este processo tornou-se fácil de gerir. a técnica é sair de dentro da minha cabeça e perceber, como se fosse um amigo a tentar ajudar-me, tudo o que tenho de fazer. e, meus caros, quando digo tudo o que tenho para fazer, é tudo. desde separar capítulos dos livros numerando-os, lê-los, enviar e-mails, pesquisar falhas do curso anterior ara que não falhe agora, ler artigos, entrevistas, preparar livros para o LEVA (este tem notas e não podem ser lidas na totalidade), recolher textos do Vian já seleccionados, a reformular apontamentos dos cursos, registar voluntários, etc.. depois organizar cada uma das coisas por dias, numa lista, ou melhor em duas listas. numa, num calendário mensal, com os avanços do trabalho. outra, sem datas, das coisas paralelas que não me posso esquecer de fazer. a ideia é que a cabeça não volte a colapsar, ou melhor, que no dia em que tiver de colapsar, o possa fazer em paz, porque o trabalho já foi organizado antecipadamente e portanto não é necessário estar todos os dias em sentido. e o trabalho flui.

isto funciona. não cumpro diariamente mas há um dia em que consigo recuperar o atraso e é um alívio gigante. agora sim consigo ver alguma luz ao fundo do túnel com o espectáculo do Boris Vian para o qual tenho ainda de ler uns nove ou dez livros para escolher textos antes de começar a desenhar o espectáculo.

eu sei que isto roça a patologia mas a verdade é que desde que comecei a produzir-me a mim própria ando muito mais descansadinha. se precisarem de ajuda, já sabem, peçam-me a mim que também vos posso "produzir". em troca venham trabalhar para o café comigo para que, se voltar a ler um texto como o que postei aqui do Boris Vian tenha a quem mostrar. é que até dei saltinhos. e dar saltinhos sozinha é ridículo.

Boris Vian no seu Les Fourmis

actual como nunca. com o sentido de humor certo. tudo no sítio.

"Lune et Paton se dirigèrent vers la table sept où ils trouvèrent Arrelent et Poland, deux des fliques les plus arriérés de l'Ecole ce qu'ils compensaient par un culot peu commun. Ils s'assirent tous dans un gargouillis de chaises écrasées.
- Ca a marché? a demandé Lune à Arrelent.
- De la kouille en barre ! répondit Arrelent. Ils m'ont donné une vioque d'essai qui avait au moins soixante-dix piges, et dure comme un cheval, la garce !
- Moi j'ai cassé neuf dents à la mienne d'un seul coup, dit Poland. L'examinateur m'a félicité.
- J'ai pas eu de veine, insistait Arrelent. Elle m'a tellement fichu en rogne que j'ai loupé mon passage à la pèlerine plombée.
- Je sais pourquoi, dit Paton. Ils n'en trouvent plus assez dans les quartietrs pauvres, alors ils nous en donnent qui viennent d'endroits mieux nourris. Elles tiennent mieux le coup. Pour les femmes, remarque, ça peut encore aller, mais ce matin j'ai eu du mal à enfoncer mon bâton dans l'oeil de mon type ...
- Oui, dit Arrelent, moi j'avais prévu le coup. J'ai un peu truqué mon bâton.
Il le leur montra. Adroitement, il en avait appointé l'extrémité.
- Comme dans du beurre, dit-il. J'ai fait un effort terrible et j'ai regagné deux points de plus. Ça m'a rattrapé d'hier ...
- Les gosses aussi sont durs cette année, dit Lune. Celui que j'avais hier matin, je n'ai pu lui casser qu'un poignet à la fois. Les chevilles, j'ai du y aller à coup de souliers. C'est dégueulasse.
-C'est la même chose, dit Arrelent. Ceux de l'Assistance, on ne peut plus en avoir. Ça, c'est des gosses de fourrière, alors on ne peut pas savoir. Tu tombes sur un bon ou tu tombes sur un mauvais. C'est la chance. Ceux qui étaient bien nourris, ils sont difficile à amocher vite. Ils ont des peaux dures.
- Moi, dit Poland, les plombs de ma pèlerine, ils se sont décousus, alors il ne m'en restait que sept sur seize, j'ai du taper deux fois plus vite, ce que j'étais crevé, parole d'homme !... Mais le sergent, il bichait dur de voir ça. Il m'a simplement dit de les coudre plus solide la fois d'après. J'ai été pénalisé.
Ils s'arrêtèrent de parler car on amenait la soupe. Lune saisit la louche et la plongea dans la marmite. C'était de la soupe de chevrons avec du gras qui nageait. Ils s'en servirent de grosses portions."

Boris Vian
"Les bons Élèves"
Les Fourmis

existe um poeta

rimbaud.
hoje dei por mim a lembrar-me dele. foi tanto o meu poeta. como me lembro muitas vezes da poesia que deixei unicamente na memória. este poema dizia-o de memória em Paris, muitas vezes. 

Départ      

Assez vu. La vision s'est rencontrée à tous les airs.
Assez eu. Rumeurs des villes, le soir, et au soleil, et toujours.
Assez connu. Les arrêts de la vie. Ô Rumeurs et Visions !
Départ dans l'affection et le bruit neufs !


Os textos das Illuminations todos aqui.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

forma de vida

isto é muito bom. a mim, que ando descrente, encheu-me o peito!




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Nº1 / Fevereiro de 2013

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

novos cursos, está a inscrever!

CONTEMPORANEIDADES NA LITERATURA PORTUGUESA . da sociedade aos livros


4as feiras de Março 2013
(4 sessões)

Livraria Pó dos Livros, Lisboa

35€
descontos para estudantes e desempregados: 30€
inscrições: podoslivros@gmail.com
com rosa azevedo

Quem são os novos autores portugueses? O que os une e o que os separa? Em que nome escrevem e em que nome surgem em público? Numa época de novas tecnologias, novas formas de aparecer em público, crise económica, intelectual e ideológica, o que é preciso para se ser um escritor?
O século XXI trouxe novos paradigmas à literatura. A passagem de século é uma passagem temporal como outra qualquer mas a verdade é que foi neste início de século até aos nossos dias que assistimos à explosão da Internet com as redes socias, blogs e meios de divulgação. Com isto os escritores saem do desconhecido para se tornarem figuras públicas facilmente reconhecidas na rua e cuja vida privada acaba por ser conhecida e confundida com a sua obra de forma mais perversa do que antes porque o meio é, arrisco dizer, mais selvagem. Mas há excepções. E há diferentes tipos de leitores e, no limite, são os leitores que fazem uma grande parte do que um escritor é.
Depois podemos ainda reflectir sobre a razão da escrita. O que faz um escritor? Que tipos de escritores existem? O que nos confere autoridade para avaliar as intenções de um escritor? De que forma as intenções de um escritor alteram a forma como recebemos o texto e como o lemos?
Em Portugal proliferam novos escritores. Sofrem em bloco da “angústia da influência” procurando, a cima de tudo, a originalidade. A que custo? Em que nome escrevem eles?


CURSO DE LITERATURAS AMERICANAS

3as feiras de Março 2013 (4 sessões)

Livraria Pó dos Livros, Lisboa   

Literatura Sul Americana
Literatura Norte Americana
35€
descontos para estudantes e desempregados: 30€

inscrições: podoslivros@gmail.com
 

Este curso apresenta uma visão transversal da literatura norte-americana e sul-americana em dois momentos distintos. Apesar de se localizarem no mesmo continente estas duas literaturas mostram realidades completamente distintas e têm em comum o facto de retratarem a cultura e a sociedade dos seus países, mostrando como as fronteiras tanto se esbatem em zonas delimitadas como é a América do Sul e do Norte como depois são tão marcadas quando saltamos do Norte para o Sul mostrando que muitas vezes a questão dos continentes é meramente geográfica.



Com Rosa Azevedo: nasceu em 1982 em Lisboa. Terminou em 2004 a licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, maior em variante de estudos portugueses, franceses e menor em Literaturas do Mundo, em 2008 o mestrado em Edição de Texto. Tem realizado desde 2007 diversos cursos de literatura portuguesa e hispano-americana, para além de outros trabalhos de produção ligados à literatura, nomeadamente na área do surrealismo e dos novos autores portugueses. Fundou e foi presidente da Associação Cultural Respigarte. Foi livreira e hoje é produtora, formadora, revisora e dinamizadora e divulgadora da área dos livros.

E Nuno Marques: Após ter saído da Marinha Portuguesa onde foi tradutor e correspondente do jornal de bordo do Navio Escola Sagres licenciou-se em Estudos Norte-Americanos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Tendo grande interesse pela obra da Geração Beat orientou o seu percurso académico para o estudo das obras destes autores do qual tem dado conta nos encontros anuais da Associação Portuguesa de Estudos Norte-Americanos; sendo agora Mestrando nessa área. Foi bolseiro ao abrigo da Bolsa da Universidade de Lisboa / Fundação Amadeu Dias. Livreiro nos últimos anos, ganhou o prémio de poesia Jovens Escritores 2006.

 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Livreiro da Esperança 2013

 
 
 
 
O Livreiro da Esperança - uma homenagem das gentes do livro aos livreiros portugueses, muito esquecidos e nem sempre compreendidos na sua fundamental função de editores da leitura - foi instituído em 2012 e homenageou o livreiro Jorge Figueira de Sousa, da Livraria Esperança, no Funchal.

O Encontro-Livreiro homenageia, em 2013, os livreiros


Caroline Tyssen e Duarte Nuno Oliveira
Livraria Galileu - Cascais

O diploma «Livreiro da Esperança 2013» será entregue no IV Encontro Livreiro, a realizar na tarde do dia 7 de Abril, domingo, na Livraria Culsete, em Setúbal.


A Livraria Galileu, que completou 40 anos de vida no passado dia 22 de Dezembro de 2012, é um exemplo de sonho transformado em realidade, de persistência, de esperança e de grande confiança no futuro do livro, da leitura e das livrarias.

Obrigado, Caroline Tyssen! 
Obrigado, Duarte Nuno Oliveira!
Encontro-Livreiro
http://encontrolivreiro.blogspot.pt/

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

a leitura está fora de moda

há alguma animosidade com os livros. já sabem que tento sair da minha bolha para entender e analisar os movimentos sociais que se geram à volta da ideia da leitura mas que seja como for será sempre a minha bolha. um pouco alargada, vá. foquemos nesse ponto de vista.
a leitura de um livro pressupõe sempre uma enorme diversidade de sensações, universais (sim, universais dentro de um universo de leitores, universo onde me vou centrar, para além da minha bolha). temos o enredo e a escrita, que muitas vezes não se relacionam, ou, pelo menos, não se interligam em absoluto. depois temos a leitura emocional e a leitura crítica onde se opera o mesmo fenómeno de uma não interligação nem imediata nem obrigatória. socialmente a leitura e a partilha de "leituras" tem caído em desuso, cada vez mais a leitura é um processo solitário. muito longe da música e do cinema por exemplo (se bem que a faceta literária do cinema caia no mesmo problema) onde toda a gente partilha e mostra e quer falar disso. é comum vermos conversas de muito tempo sobre a música que gostamos e partilhas de downloads e de vídeos do youtube e de CD's físicos. com livros assistimos a um mercado negro de partilha de livros sem grandes alaridos ou comentários, quase como se fosse uma actividade clandestina. tornou-se desconfortável e desagradável estar muito tempo a falar de livros. das características que falei em cima há umas que se vão sobrepondo. a história é mais fácil de receber, entender e assimilar do que a escrita. neste mesmo sentido a leitura crítica perde terreno para a leitura emocional que também é mais fácil de assimilar porque é instintiva.
ler e ler muito e falar sobre isso tornou-se elitista. pensar os livros está fora de moda. ou gostamos ou não gostamos e pronto, e se gostamos passamos ao próximo e ficamos por aí. a crítica literária aproxima-se dramaticamente da descrição do enredo com pequenos apontamentos para a escrita (salvo raras e honrosas excepções). já lá vai o tempo em que se assumia com naturalidade que o eça não podia estar mais a borrifar-se para a história dos irmãos maias e que aquilo que verdadeiramente lhe interessava era a forma com eles reagiam a essa história. como eles, enquanto lisboetas do final do século XIX reagiam a essa história. era assumido que era assim. os leitores do século XX passavam muitas vezes aquilo que se costumou chamar "páginas de descrição" (??) à frente para chegarem à história de amor. se calhar era mais fácil ler um nicholas sparks que é mais pequeno e ele já fez esse favor ao leitor. ler um livro não deveria ser sacar dele aquilo que nos interessa. é um exercício cansativo e frustrante, assassina os livros e não nos traz nada de novo. os livros, na minha modesta opinião, servem e existem para nos fazer evoluir. para nos acrescentar alguma coisa. se fintarmos o que nos livros nos provoca esse efeito não me ofende, de todo. mas transforma o tempo de quem o faz em tempo perdido e a cabecinha num elo mais fraco.

o que queria referir aqui é que já não há boas conversas sobre livros (na minha bolha entenda-se). tenho saudades daqueles momentos de conversas que nunca seriam elitistas porque aí a leitura não era elitista em que falávamos horas sobre os livros que tínhamos lido e os livros que queríamos que os outros lessem. sem "cenas". só nós e os nossos livros a falarmos sobre isso. sinto uma grande solidão hoje em dia na minha vida que, arrisco dizer, tem em si os livros como a marca mais forte. se calhar por isso é que tenho este blog, que por alguma razão tem tão poucos comentários. os livros estão fora de moda. ou melhor, não quero ser injusta. a leitura, a verdadeira, está fora de moda.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Clarice Lispector na Gulbenkian

pode ler-se no site da Gulbenkian:

"No ano em que passam 35 anos sobre a morte de Clarice Lispector, a Fundação Gulbenkian apresenta a exposição A Hora da Estrela, integrada nas comemorações do Ano do Brasil em Portugal. Divulgar a obra de uma das mais destacadas vozes da literatura brasileira é um dos objetivos desta exposição que ocupará a Sala de Exposições Temporárias do Museu Calouste Gulbenkian, entre 5 de abril e 23 de junho.

Com a curadoria de Julia Peregrino e Ferreira Gullar, a mostra já foi apresentada no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, mas também no Rio de Janeiro, em Brasília e em Bogotá. Mais de 700 mil pessoas viram esta exposição que mostra textos, fac-símiles, fotografias, documentos pessoais, mas também recria ambientes e cenários que inspiravam a escritora.

Nascida na Ucrânia, em 1920, Clarice Lispector chegou ao Brasil com menos de dois anos. Antes de se mudar para o Rio de Janeiro, em 1937, viveu em Alagoas e em Pernambuco. Passou muitos anos fora, acompanhando o marido diplomata, mas nunca se desligou do Brasil onde morreu em 1977. Perto do Coração Selvagem foi o primeiro dos seus 26 livros, hoje publicados em mais de 20 línguas."







O SR. IBRAHIM E AS FLORES DO CORÃO

está de regresso uma das mais fascinantes experiências teatrais dos últimos tempos. com miguel seabra e encenação do mesmo, conta-nos a história maravilhosa do Sr. Ibrahim. comovente, envolvente, uma verdadeira história contada pelo melhor de todos os contadores de histórias.

13 de fevereiro a 03 de março

Texto - Eric-Emmanuel Schmitt
Versão Cénica e Encenação - Miguel Seabra
Interpretação - Miguel Seabra e Rui Rebelo


Reservas 218689245 / 918046631 ou e-mail geral@teatromeridional.net
www.teatromeridional.net





terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

as novidades todas juntas, para quem não recebeu por e-mail

olá a todos (sem @ nem x)
isto é uma catrefada de novidades por isso vou entrar em modo telegrama para não vos perder (muito) (mais).

primeiro os novos cursos. sempre na querida Pó dos Livros, em Lisboa. o contemporaneidades na literatura portuguesa - da sociedade aos livros todas as 4ªfeiras de Março, às 21h. o curso de literaturas americanas - norte e sul todas as 3ªfeiras de Março, também às 21h. o preço mantém-se, cada um 35€ e 30€ para desempregados e estudantes. inscrições para mim ou para a livraria. acompanhem as novidades como sempre no estórias com livros, etiqueta dos cursos, onde poderão encontrar info da última edição que será semelhante a esta, mais info brevemente.

já andamos a magicar o nosso IV Encontro Livreiro, será dia 7 de Abril como sempre na querida Culsete em Setúbal. mais informação no blog do Encontro ou no facebook.

já esta 6ª vou estar na Livraria Cabeçudos a ler os meus surrealistas. a ideia é que quem quiser ler traga livros surrealistas, quem quiser ouvir vem sem livros surrealistas. a “cena” é vir. toda a info aqui. surrealistiquemos. desvairai-vos.

o LEVA vai lançado por aí, as gravações começaram, mas eu preciso ainda de mais voluntários, se forem pares (leitor + alguém que faça a gravação) perfeito, por questões práticas. mas TODOS os voluntários são importantes. podem seguir a evolução do projecto e notícias nesta etiqueta do estórias com livros ou no facebook.

os mal comportados voltaram ao ataque e agora é que vai ser. das surpresas e do que isto será não posso falar mas têm novo blog e novo facebook, para irem espreitando. tudo a seu tempo.


e é isto, os livros como sempre no estórias com livros, o resto no rosapeixe.

uf.

quem chegou até aqui obrigadinha. quem chegou até aqui e saltou parágrafos shame on you. quem não chegou não estará a ler isto.

beijos e abraços e muitos bem haja por aí,

rosa

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

IV Encontro Livreiro

já estamos de volta do nosso bom momento do ano, o Encontro Livreiro. desta vez e excepcionalmente para fugir à Páscoa, será no primeiro domingo de Abril, dia 7. como sempre na bonita "casa" do nosso Livreiro Velho e da Fátima, a Livraria Culsete, em Setúbal. um encontro para gentes do livro, todas, sejam quais forem, um encontro de portas abertas e cada vez maior. para falar, debater, conhecer pessoas giras e brindar com moscatel.
darei mais notícias por aqui, para informação continuada é ir consultando o Encontro Livreiro, blog e facebook.
o cartaz é do nosso ilustrador sempre ao serviço e bem, Pedro Vieira, Irmão Lúcia.


baú do meu palácio #3


dei por mim a pensar no Mishima. o Mishima que é um autor asiático mas que não é um autor asiático, que também não é um autor de outro sítio. escreve sobre os dilemas mais profundos a partir de histórias muito simples. cria com o nosso imaginário uma relação de amizade e entendimento. fala connosco ao pensar sobre os outros. sempre numa profunda tempestade e numa profunda guerra. nada é fácil com Mishima. nada é linear ou por acao com Mishima.
O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar é, para mim, o seu ponto alto. conta a história de Noboru, 13 anos e da sua relação complicada e próxima com a mãe que se apaixona por um marinheiro, Ryuji. numa medição de forças e conquistas de espaços, numa relação estreita com o mar de cada um deles, num diálogo da natureza com as relações humanas Mishima tem aqui um verdadeiro templo literário. imperdível.

oh Franzen oh Liberdade!


Liberdade de Jonathan Franzen mascara-se de livro comum mas as marcas de diferença surgem a cada uma das muitas páginas do romance. uma das primeiras marcas de um bom romance é aquele que não coloca as personagens em caixas com nomes determinados. onde não há "bons" e "maus". e este livro conta muito mais do que o que aconteceu às personagens, conta a história das personagens. com um pendão existencialista conseguimos ver a profunda transformação de cada uma delas na vivência com os acontecimentos e percebemos que nada é imutável nem intrínseco perante o contacto com os outros e com os acontecimentos.
Patty é a personagem mais perturbada. vive diariamente e uma vida inteira num conflito entre a vontade e a moral que ela própria impôs. entre a lealdade a Walter e a obsessão por Katz. apesar de ser a única personagem que fala em determinados momentos na primeira pessoa o facto de ela escrever essas "memórias" com fins terapêuticos faz-nos questionar a veracidade do que diz. mesmo Walter, ao ler o que esta escreveu não só lê a verdade dos factos, como nós, como lê o que está para além desses factos, lê a forma como Patty sentiu todos os anos de casamento, desde o momento em que o conhece.  nós também conseguimos ler isso, claro, mas na reacção de Walter percebemos que há interpretações que ele terá feito que nós não podemos atingir.
Walter tem tudo para ser uma personagem modelo. pai modelo, marido modelo, até amigo modelo. a forma como Franzen o constrói é fascinante. Walter parece, quando aparece, uma personagem plana e neutra, vista pelos olhos de Patty. Walter não parece alguém que se possa amar mas sim alguém adorável que sabemos que estará sempre do nosso lado se tivermos a sorte de o ter como amigo. falta-lhe inicialmente uma energia que possa fazer com que alguém se possa apaixonar por ele. mas depois com o desenrolar do livro percebemos as falhas, os restos de humanidade, o desequilíbrio que se desenvolve ao mesmo tempo que se desenvolve o desequilíbrio de Patty. e é impossível não sentir essa paixão por esse Walter, que sente uma perturbação imensa mas que a esconde por respeito e amor aos que o rodeiam. que não perdoa Katz mas que se comove com algum histerismo quando Katz lhe faz a supresa do CD. que não perdoa Patty até imaginar que ela possa estar realmente a sofrer e em perigo. na luta da perturbação contra a bondade, em Walter ganha sempre a bondade. mas não sem antes ter ensinado o que tinha a ensinar. com tudo o que lhe acontece Walter sai sempre vitorioso dando uma abada emocional a todos os leitores e a todos os que convivem com ele. fica por esclarecer o porquê da relação complicada com os filhos (no livro há um salto temporal muito grande) ao mesmo tempo que fica por esclarecer o apaziguamento repentino com Joey. fica por esclarecer a passagem do amor que sente por Patty para o amor que sente por Lalitha e a dificuldade que tem em sobreviver à tragédia, altura em que o leitor poderá então perceber que aquilo era real.
fica muito por dizer em Liberdade. Franzen cria uma estrutura narrativa entrecortada por vários pontos de vista, dando o que por vezes pode ser uma exagerada narrativa entrecortada. no entanto há imensos vazios por preencher na narrativa e ninguém terá certamente lido o mesmo livro.
para terminar apenas uma palavra para as últimas páginas do último capítulo. aqui depois de um desenrolar que para alguns poderia ser expectável e previsível e sem chama, o ponto de vista passa para a vizinha de Walter e Patty, que apenas conhece o que vê, que poderá ser, e será, montado por Patty, que sempre soubera muito bem manter as aparências. e Franzen, sem pôr um ponto final que por si só já lança a interrogação num livro qualquer, aqui Franzen deixa-nos mais umas páginas de um ponto de vista desfocado deixando-nos sem perceber que fim foi este, sem perceber o que realmente aconteceu dentro de quatro paredes. é que este não é, de todo, um livro qualquer. é um Franzen.

(tenho muito mais a dizer mas isto depois ficava chato. qualquer questão ou vontade de discutir os livros diferentes que lemos quando lemos o Liberdade, podemos beber um café)

Bárbara Bulhosa e os Diamantes de Sangue

num triste exercício de democracia Bárbara Bulhosa, editora da Tinta da China, foi constituída arguida num processo movido por um grupo de generais angolanos ligados a empresas de extracção mineira contra Rafael Marques, autor do livro Diamantes de Sangue.






com a cortesia do Cadeirão Voltaire deixo AQUI a notícia avançada pela LUSA a 6 de Dezembro do ano passado.