terça-feira, 20 de agosto de 2013

Psyche, de Leandro Morgado, no Fringe Festival

fui a Edimburgo ver o novo espectáculo do Leandro, o Psyche. assisti a três apresentações mas deu para ficar com uma ideia do que era. umas poucas semanas antes do início do Festival assistimos na Malaposta ao try-out do espectáculo e notou-se uma grande evolução nesta forma "final" (sempre entre aspas).
o Psyche fala sobre o cérebro. não sobre a massa que ele é mas sobre a mente, a forma como ela nos manipula e como pode ser manipulada. o Leandro apresenta-nos o que não ficamos bem a saber se é um espectáculo de magia, comédia, mind-reading ou outra coisa qualquer. como muitas vezes disse para descrever outros espectáculos, este é o espectáculo dele. como sempre o ponto forte é o conceito, a forma como ele nos fala do cérebro. a presença do conceito é de tal maneira forte que a mim me habituou a um tipo de espectáculo que aumenta de facto a fasquia. um espectáculo de magia e comédia que poderia ser incrível deixa-me agora a perguntar o porquê de o ter ido ver (eu tenho alguma comichão com o simples entertenimento, quem me conhece sabe isso, acho válido mas interessa-me pouco, em diversas áreas artísticas). o espectáculo Psyche acrescenta-nos algo, explicando alguns fenómenos e passando-nos algumas informações sobre a forma como o cérebro funciona, ilustrando essas informações com truques e personagens. torna-se interessante verificar que o Leandro não pretende enganar ninguém dizendo que a mente dele é diferente da nossa, ou com poderes especiais, ele não lê mentes. não faz o fácil caminho do show do mentalista que adivinha que palavra se forma na cabeça de alguém. aliás o Leandro satiriza os próprios mentalistas através de uma das suas personagens não deixando no entanto de surpreender ao adivinhar uma palavra escolhida ao acaso num livro inteiro (talvez o truque mais forte do espectáculo).
com truques fortes, insuspeitos, momentos hilariantes de contacto com o público, este foi um espectáculo que funcionou de forma intimista. havia uma relação muito intensa entre as pessoas que estavam na sala e o espectáculo que estava a decorrer, sentia-se empatia com as personagens que iam surgindo, inclusive com Gustav, o Macaco Mentalista. esta intimidade foi talvez o que considero o ponto mais forte do espectáculo no Fringe. ajudou uma merecida e constante sala cheia e composta.
durante duas semanas, as primeiras do Leandro no Fringe (primeiras de muitas outras esperamos nós), foi possível perceber o humor diferente do nosso, testar o que funciona e  que não funciona, os ritmos diferentes que tem de usar enquanto mágico e comediante sobretudo. será aconselhável numa próxima vez um try-out para aqueles lados para que ele possa testar antecipadamente o que pode funcionar menos bem. eu cheguei nos últimos três dias e vi um espectáculo coeso e interessante. hilariante e charmoso. e vi um artista de palco que sabe trabalhar sozinho, sabe que o público é parte das suas armas de trabalho e que não está, em nenhum momento, longe das pessoas.
fica-nos na curiosidade o que se seguirá. o que se pode dizer é que o Leandro superou a prova Fringe. uma primeira experiência que só pode dizer o melhor do trabalho dele e dele próprio. afinal pensemos bem nisto, pela primeira vez, um português sozinho, nos palcos do Fringe (na rua já tínhamos portugueses), constrói um one man show (with a monkey), sem nunca ter feito no Reino Unido um espectáculo semelhante e, ainda assim, funciona desta forma. eram 2500 espectáculos e ele era um deles e teve sempre sala mais do que pronta para receber o espectáculo. só tenho uma coisa a dizer, irritando de passagem quem não gosta de tantas expressões "de fora", it was fukin great.






(fotos andré santos)

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