As leituras que faço levam-me por muitos caminhos, diferentes uns dos outros. E às vezes há sítios onde me deixo ficar, desenvolvendo uma pequena obsessão que começa, normalmente, por desfazer um novelo que depois chega a uma multiplicidade de fios entrelaçados com os quais perco ainda mais tempo. Foi assim que cheguei a esta vontade de perceber porque é que há tantas mulheres escritoras de que pouco mais se sabe do que o nome, no séc. XX.
Foi preciso ouvir dizer que Maria Judite de Carvalho era a única mulher existencialista em Portugal, perceber que a Celeste Andrade tem um livro que já ninguém lê, que Isabel da Nóbrega é ainda vista como a musa abandonada por Saramago (na verdade muitas delas são referenciadas como mulheres de alguém), que a Natércia Freire recebeu muito mais aplausos que a Sophia no Teste do Fernando Ribeiro de Melo. Foi preciso começar a encontrar as muito poucas pessoas que falam delas, normalmente com a nostalgia que cabe aos esquecidos: era a Maria Archer, a Natália Nunes, a Fernanda Botelho, a Irene Lisboa, a Maria Ondina Braga, a Graça Pina de Morais.
E que conceito de "esquecidas" é este? Tem sido comum encontrar pessoas com conceitos diferentes do meu. Podem ser apenas referidas muito ao de leve nas conceituadas publicações académicas da Literatura Portuguesa mas podiam andar nos olhos dos leitores, e não estão. Há pessoas que discretamente as lêem avidamente, numa esfera privada. São escritoras que criaram com os leitores relações íntimas, silenciosas. Quem me conhece sabe que prezo essa relação silenciosa e não pretendo com isto que ela se quebre. Pretendo alargá-la. Resgatar este imaginário feminino de um séc XX profundamente preconceituoso artisticamente e tentar encontrar as perguntas certas (as perguntas são sempre o caminho certo, e depois encontrar alunos que tragam as respostas): será verdade que estas escritoras foram abafadas por uma sociedade centrada no homem escritor e intelectual? seria tão difícil sair da esfera privada onde as mulheres iam sendo, desde o séc XIX, intelectualmente aceites? quereriam estas mullheres uma visibilidade diferente? para quem escreviam elas e porquê? o que mudou para a escrita no feminino, hoje? o que as distingue das mulheres que marcaram o cenário literário do séc. XX? bastará um editor lembrar-se de as publicar para que elas tenham o lugar merecido?
As perguntas são muitas, com respostas que, apesar de parecer, não são nada óbvias, e chega aqui o meu pedido de ajuda. Para 2018 vou lançar um novo curso sobre as escritoras esquecidas do séc XX. Vou falar delas e tentar encontrar um caminho para estas dúvidas. Como nos outros cursos que dou vou tentar criar com os vários grupos um mapa de questões e apresentar-lhes cada uma delas, pedindo-lhes que, enquanto leitores, façam com elas o que acharem por bem.
Para isso preciso da vossa ajuda. Como já vem sendo hábito as minhas pequenas obsessões desenvolvem-se à volta de temas onde não há praticamente nada escrito. Preciso que me falem das vossas escritoras esquecidas, que me enviem textos, cópias, links, tudo o que tiverem sobre elas ou sobre esta temática. Fico desde já tão agradecida e vou dando notícias dos avanços da investigação neste blog.
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