terça-feira, 30 de janeiro de 2018

O último livro de Cortázar

Cortázar pode e deve ser lembrado como um escritor que criava as próprias regras da literatura. Não o fazia por qualquer tipo de radicalismo mas porque procurava na vida uma ideia e à volta dela criava um livro que fizesse sentido, que recriasse literariamente essa mesma ideia.

Nos últimos anos da sua vida Córtazar decide viajar durante 33 dias numa auto-estrada, de Paris a Marselha, uma viagem de mais de 700km, numa Volkswagen a que chamava Dragon. A viagem seria levada a cabo com a sua última mulher, Carol Dunlop, em Maio de 1982, após cinco anos de sucessivos adiamentos. Para os dois a auto-estrada era o sítio mais efémero de todos, onde só existiam viajantes e todos de passagem. Eles iam inverter essa lógica escrevendo durante esses 33 dias (duas estações de serviço por dia) um diário de viagem ao estilo dos grandes escritores de viagens mundiais, que Córtazar leu extensiva e intensamente. Iam observar os viajantes, escrever sobre eles, parar em sítios onde todos os outros passam sem olhar.

Foi o último livro de ambos, Carol adoece e morre seis meses depois, Córtazar fica mais dois anos. E como não podia deixar de ser é um livro positivo, de caminho e viagem, cheio de humor e companheirismo. Foi a melhor das despedidas.


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