Mais um livro que levanta a velha questão discutida sem fim: até que ponto é legítimo editar um livro que um autor optou por não editar? Neste caso há alguns argumentos a favor da edição. Primeiro o autor deixou o espólio muito organizado. Como ele próprio disse, se ele não quisesse que as obras fossem descobertas tinha-as destruído. Como fez Santa-Rita Pintor. Ou tinha deixado instruções para que não fosse publicado. Acho que neste caso devemos ler este livro como ele é: um livro da sua fase pós neo-realista, em transição para o existencialismo (e só por isso é já um documento histórico), um livro que ele amou e depois considerou medíocre.
Não é o grande livro de Vergílio Ferreira, mas é um bom romance-problema. E nesta categoria mais do que ser o melhor, Vergílio Ferreira é único. Tem algumas frases de construção duvidosa e gralhas imperdoáveis numa edição de Helder Godinho, que, a querer manter o texto como o encontrou (o que seria estranho visto ele mesmo ter concluído que o texto que lhe chegou às mãos já teria sido copiado por um dactilógrafo) deveria ter assinalado as mesmas como já presentes no original.
No entanto nada mancha o facto de termos nas mãos do público uma edição crítica como única edição desta obra, o que em muito a valoriza. Normalmente as edições críticas só circulam dentro de um público específico. Aqui e com muito rigor qualquer leitor pode ter acesso a que palavras foras rasuradas, emendadas e acrescentadas pelo autor (entre outras particularidades do texto encontrado) numa terminologia definida pelos críticos Pessoanos. Essa riqueza de conhecimento à volta de um livro começa já a desaparecer com a escrita digital. Neste caso temos um texto dactilografado revisto e emendado pelo autor, sendo que todas as emendas são registadas no final do livro, o que simplifica a leitura.
Como dizem os editores na excelente introdução à obra, esta não é uma obra menor de Vergílio Ferreira nem deve ser vista como tal. É um romance de aprendizagem da personagem Flávio e um romance transitório para o autor. É um ponto a mais na sua obra, que não deverá ser, a meu ver, o romance de quem começa agora a ler Vergílio Ferreira. Mas isso digo eu, que procuro nos autores que leio um caminho ideal entre as suas obras, juízo que dificilmente seria mais subjectivo.
Concluindo: a ler, sim. É o veredicto final.
Não é o grande livro de Vergílio Ferreira, mas é um bom romance-problema. E nesta categoria mais do que ser o melhor, Vergílio Ferreira é único. Tem algumas frases de construção duvidosa e gralhas imperdoáveis numa edição de Helder Godinho, que, a querer manter o texto como o encontrou (o que seria estranho visto ele mesmo ter concluído que o texto que lhe chegou às mãos já teria sido copiado por um dactilógrafo) deveria ter assinalado as mesmas como já presentes no original.
No entanto nada mancha o facto de termos nas mãos do público uma edição crítica como única edição desta obra, o que em muito a valoriza. Normalmente as edições críticas só circulam dentro de um público específico. Aqui e com muito rigor qualquer leitor pode ter acesso a que palavras foras rasuradas, emendadas e acrescentadas pelo autor (entre outras particularidades do texto encontrado) numa terminologia definida pelos críticos Pessoanos. Essa riqueza de conhecimento à volta de um livro começa já a desaparecer com a escrita digital. Neste caso temos um texto dactilografado revisto e emendado pelo autor, sendo que todas as emendas são registadas no final do livro, o que simplifica a leitura.
Como dizem os editores na excelente introdução à obra, esta não é uma obra menor de Vergílio Ferreira nem deve ser vista como tal. É um romance de aprendizagem da personagem Flávio e um romance transitório para o autor. É um ponto a mais na sua obra, que não deverá ser, a meu ver, o romance de quem começa agora a ler Vergílio Ferreira. Mas isso digo eu, que procuro nos autores que leio um caminho ideal entre as suas obras, juízo que dificilmente seria mais subjectivo.
Concluindo: a ler, sim. É o veredicto final.
1 comentário:
Bom e bem visto
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