sexta-feira, 30 de maio de 2014

Curso de literatura portuguesa séc XX, por rosa azevedo

Este curso pretende debruçar-se sobre a literatura portuguesa do séc. XX, de um ponto de vista generalista focando os principais movimentos e alguns autores. É um curso que se direcciona sobretudo a quem não é da área dos livros (ainda que todos os outros sejam bem vindos), tentado dar uma visão alargada do que se passou por cá no séc. XX.

programa

1ª sessão
realismo, naturalismo, simbolismo, revoluções culturais do início do século, abertura para o modernismo
2ª sessão
modernismo, contexto cultural da época: os intelectuais e a literatura
3ª sessão
surrealismo
4ª sessão
neo-realismo: movimento revolucionário com máscara
5ª sessão
anos 50 a 70: literatura sem marca. Vergílio Ferreira e o existencialismo
6ª sessão
nova literatura: novos autores, consagrados e outros, revistas literárias, consagradas e outras

17 de Junho a 3 de Julho de 2014 | Terça-feira e Quinta-feira, das 19h00 às 20h00
6 sessões


Frequência: 45€ + 23% IVA
Nº mínimo de alunos:5

EDGE ARTS | Arte Contemporânea
Espaço Amoreiras - Centro Empresarial
Rua D. João V nº 24, 1.06, 1250-091 Lisboa | Portugal
[+351] 213 600 071 | [+351] 963 329 321
info@edge-arts.org
(com estacionamento subterrâneo)

para inscrições enviem mail para fperez@edge-arts.org e recebem a ficha de inscrição e todas as instruções
 
http://www.edge-arts.org/
www.estoriascomlivros.blogspot.com

terça-feira, 20 de maio de 2014

SÚMULA


Minha cabeça estremece com todo o esquecimento.
Eu procuro dizer como tudo é outra coisa.
Falo, penso.
Sonho sobre os tremendos ossos dos pés.
É sempre outra coisa, uma
só coisa coberta de nomes.
E a morte passa de boca em boca
com a leve saliva,
com o terror que há sempre
no fundo informulado de uma vida. Sei que os campos imaginam as suas
próprias rosas.
As pessoas imaginam os seus próprios campos
de rosas. E às vezes estou na frente dos campos
como se morresse;
outras, como se agora somente
eu pudesse acordar.
Por vezes tudo se ilumina.
Por vezes canta e sangra.
Eu digo que ninguém se perdoa no tempo.
Que a loucura tem espinhos como uma garganta.
Eu digo: roda ao longe o outono,
e o que é o outono?
As pálpebras batem contra o grande dia masculino
do pensamento.
Deito coisas vivas e mortas no espírito da obra.
Minha vida extasia-se como uma câmara de tochas.
- Era uma casa - como direi? - absoluta.
Eu jogo, eu juro.
Era uma casinfância.
Sei como era uma casa louca.
Eu metias as mãos na água: adormecia,
relembrava.
Os espelhos rachavam-se contra a nossa mocidade.
Apalpo agora o girar das brutais,
líricas rodas da vida.
Há no esquecimento, ou na lembrança
total das coisas,
uma rosa como uma alta cabeça,
um peixe como um movimento
rápido e severo.
Uma rosapeixe dentro da minha ideia
desvairada.
Há copos, garfos inebriados dentro de mim.
- Porque o amor das coisas no seu
tempo futuro
é terrivelmente profundo, é suave,
devastador.
As cadeiras ardiam nos lugares.
Minhas irmãs habitavam ao cimo do movimento
como seres pasmados.
Às vezes riam alto. Teciam-se
em seu escuro terrífico.
A menstruação sonhava podre dentro delas,
à boca da noite.
Cantava muito baixo.
Parecia fluir.
Rodear as mesas, as penumbras fulminadas.
Chovia nas noites terrestres.
Eu quero gritar paralém da loucura terrestre.
- Era húmido, destilado, inspirado.
Havia rigor. Oh, exemplo extremo.
Havia uma essência de oficina.
Uma matéria sensacional no segredo das fruteiras,
com as suas maçãs centrípetas
e as uvas pendidas sobre a maturidade.
Havia a magnólia quente de um gato.
Gato que entrava pelas mãos, ou magnólia
que saía da mão para o rosto
da mãe sombriamente pura.
Ah, mãe louca à volta, sentadamente
completa.
As mãos tocavam por cima do ardor
a carne como um pedaço extasiado.
Era uma casabsoluta - como
direi? - um
sentimento onde algumas pessoas morreriam.
Demência para sorrir elevadamente.
Ter amoras, folhas verdes, espinhos
com pequena treva por todos os cantos.
Nome no espírito como uma rosapeixe.
- Prefiro enlouquecer nos corredores arqueados
agora nas palavras.
Prefiro cantar nas varandas interiores.
Porque havia escadas e mulheres que paravam
minadas de inteligência.
O corpo sem rosáceas, a linguagem
para amar e ruminar.
O leite cantante.
Eu agora mergulho e ascendo como um copo.
Trago para cima essa imagem de água interna.
- Caneta do poema dissolvida no sentido
primacial do poema.
Ou o poema subindo pela caneta,
atravessando seu próprio impulso,
poema regressando.
Tudo se levanta como um cravo,
uma faca levantada.
Tudo morre o seu nome noutro nome.
Poema não saindo do poder da loucura.
Poema como base inconcreta de criação.
Ah, pensar com delicadeza,
imaginar com ferocidade.
Porque eu sou uma vida com furibunda
melancolia,
com furibunda concepção. Com
alguma ironia furibunda.
Sou uma devastação inteligente.
Com malmequeres fabulosos.
Ouro por cima.
A madrugada ou a noite triste tocadas
em trompete. Sou
alguma coisa audível, sensível.
Um movimento.
Cadeira congeminando-se na bacia,
feita o sentar-se.
Ou flores bebendo a jarra.
O silêncio estrutural das flores.
E a mesa por baixo.
A sonhar.

Herberto Helder

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Alquimia do verbo, de Arthur Rimbaud

Agora eu. A história de uma das minhas loucuras.
Há muito que afirmava claramente possuir todas as paisagens possíveis, e considerava pobres as grandes figuras da pintura e da poesia modernas.
Amava as pinturas tortas, debaixo de portas, cenários, telas de saltimbancos, ensinamentos, iluminuras populares; a literatura fora de moda, o latim de igreja, livros eróticos sem ortografia, romances dos nossos antepassados, contos de fadas, pequenos livros infantis, velhas óperas, refrões monocórdicos, ritmos ingénuos.
Sonhava com cruzadas, viagens de grandes descobertas onde não existissem relatos, repúblicas sem histórias, guerras de religião asfixiadas, revoluções de costumes, deslocar de raças e continentes: acreditava em todos os encantamentos.
Inventava a cor das vogais! - A preto, E branco, I vermelho, O azul, U verde.  Criava regras para a forma e o movimento de cada consoante e, com ritmos instintivos, escolhia orgulhosamente um verbo poético, acessível, num ou noutro dia, mas para todos os sentidos. Reservava a mim a tradução.
Mas tudo era apenas um estudo. Escrevia silêncios, noites, decifrava o inexprimível. Fixava vertigens.





















[até que um dia me ponha a escrever novamente, vou traduzindo os meus]

Para Acabar de Vez com a Leitura & Ozon

o nosso ciclo Para Acabar de Vez com a Leitura traz desta vez o incrível filme de François Ozon "Dans la Maison", um filme sobre a escrita e o perturbador poder da ficção. a entrada é livre, a linha de metro é a amarela, estação Ameixoeira, os nossos anfitriões são a Salamandra Dourada. tudo boas razões para um belo fim de tarde juntos, neste próximo Domingo.


SALAMANDRA DOURADA
Casa da Árvore
18 de Maio
19h
entrada livre
Evento facebook




Claude Garcia, um jovem estudante de 16 anos, imiscui-se em casa de um colega de turma com intenção de observar a sua família e usá-la como inspiração para a sua escrita. Quando o ano lectivo se inicia, Germain, o professor de literatura francesa, percebe, através dos trabalhos que pede aos alunos, que aquele rapaz é possuidor de um dom raro. Apesar de introvertido e solitário, a sua personalidade cativa o professor, que considera que as obras literárias por ele criadas possuem uma força fora do comum, que vai muito além da sua idade ou maturidade. Porém, com o passar do tempo, os textos começam a revelar o seu lado "voyeurista" e perverso, com detalhes cada vez mais explícitos sobre a vida privada da família em questão. Dividido entre a decisão de o denunciar ou de o encorajar a continuar, o professor entra num perigoso jogo que porá em causa algo mais do que a sua carreira ou reputação.