quarta-feira, 19 de outubro de 2011

grande tavares. let's do it

Mas Bloom vai fazer coisas, não apenas palavras. Bloom fará coisas que pertencem ao mundo das coisas escritas, ou seja, não feitas.
Porque Bloom sabe bem que só é material e só existe aquilo que pode ser colocado debaixo dos pés de uma mesa para a endireitar.

Gonçalo M. Tavares
Viagem à Índia

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

o meu poema do meu ramos rosa. com parabéns de mais um belo ano.

Estou como se não houvesse mais para dizer que uma palavra
uma interminável palavra
no interminável silêncio
Estou como um cavalo esquelético à beira dum horizonte
perdidos todos os caminhos
Estou no entanto familiar
e rodeado de presenças
Escavo no chão absurdo
e uma pedra dá-me confiança
Na solidão da terra encontro
como o vestígio dum segredo

Poemas Nus (1953-1958)
Viagem Através duma nublosa
Edições Ática

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Odília ou a história das musas confusas no cérebro de Patrícia Portela

estava mesmo a precisar deste livro, assim, exactamente como ele é. ai maravilha!

"Patrícia Portela, conhecida (e reconhecida, nomeadamente com uma Menção Honrosa Prémio Acarte com o espectáculo WasteBand - 2003 e a Menção Especial do prémio da crítica pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro para a Dramaturgia da Trilogia Flatland) pelo seu trabalho na área do espectáculo, surge agora com a sua primeira obra de ficção publicada pela Editorial Caminho - Odília. Com minúscula, odília representa a classe das musas desempregadas e confusas; com maiúscula, é uma específica musa desempregada e confusa que procura, como qualquer ser mortal e normal, o seu lugar no mundo. E conquistar o nosso lugar no mundo é uma coisa difícil! Implica a existência de amigos (Penélope), de amores (obviamente, um poeta), de intrigas (os deuses descobrem que criaram tudo mas não criaram as musas e por isso resolvem roubar-lhes os sentidos), de reflexão (Odília esteve 1003 anos a pensar no seu destino), de coragem (como ultrapassar a teia labiríntica do quotidiano, quando se sofre de labirintite?)… E tudo acontece em simultâneo (ou será antes? ou será depois?) porque nas questões da existência, o tempo é um grande novelo que se enrola e desenrola sem nunca deixar de ser uma bola que entra numa baliza e, em simultâneo (ou será antes? ou depois?) ao grito: Gooooooooooooooooooolllllllllllllllllllllooo!"

Gosto de Clarice Lispector...

... como se não houvesse amanhã.

domingo, 9 de outubro de 2011

Filho de mil homens, de Valter Hugo Mãe

O valter escreveu sobre a família e zás, toca no meu ponto fraco. Fala de como as famílias se criam e constroem e de como somos mesmo filhos de mil homens e pais de mil homens. Fala de como o amor existe em rede e é também um sentimento de comunidade. É um livro positivo como os outros não conseguiram ser, fala de uma busca pelo sol que acaba numa busca de viagem ao negro e à luz, alternadamente. Mostra-nos os caminhos retorcidos na resposta às nossas escolhas. É um livro de escolhas onde em conjunto a comunidade se ajuda a decidir o melhor caminho. As personagens são como sempre ricas e inquestionáveis, retorcidas e vivas. É um livro que é uma viagem aos quintais daquela gente, à cabeça de pessoas para quem uma galinha gigante é mágica e onde uma anã e um homossexual podem ser fatalmente perseguidos menos pela família que inventaram.
É um livro em bom. Mais um do nosso valter que quis, desta vez, dar um toque de esperança à escrita e mostrar que quando connosco a vida é terrivelmente quotidiana com as nossas personagens podem acontecer milagres. É um livro milagre este. Mas real. Um milagre-real.

ontem estive com a silvina* e foi isto que ela disse

A questão da pertinência da arte é em si própria um problema. A arte deve libertar-se de qualquer "função" portanto a sua pertinência vem do próprio facto de ser impertinente, se entendermos a impertinência como algo que foge a qualquer regra ou convenção. A arte não deve ser útil, ou pertinente, ou relevante de qualquer forma, tem de ser autónoma. Esta automia da arte afirmou-se com o Romantismo Alemão. Foi aí que a arte perdeu o seu carácter utilitário perdendo também as orientações que vários tipos de "autoridade" lhe imputavam, nomeadamente a filosófica e a eclesiástica. Passou a caber ao artista e ao autor defender o que é arte. A partir daí começámos a esperar da arte o inesperado, a arte começou  estar onde antes não imaginávamos que estivesse e o "inesperado" passou a ser uma característica da arte entendida como tal.
A arte procura a estranheza, a libertação da vida não enquanto vida pessoal mas enquanto potência criadora. A arte resiste à opinião, ao senso comum. A arte é anti-estereótipo, contra-evidência. Os artistas modernos são contra o conceito simples de beleza, do agradável e do bem feito. A arte dirige-se sempre o "outro", é um movimento de afastamento e aproximação, quer do artista com o outro quer do outro com o artista.
Jean-Luc Nancy descreveu a arte como "toque", toque enquanto momento de quebra, inquietação, descontinuidade. Não há regras que estabeleçam o que é e o que não é um trabalho artístico. No entanto há um elemento que perturba na obra de arte, esse toque de Nancy, que destabiliza, e que nos indica determinada obra enquanto obra artística.

Blanchot: "Nomeando o possível, respondendo o impossível"

Artaud: "É para os analfabtos que escrevo"

* Silvina Rodrigues Lope: Professora Catedrática do Departamento de Estudos Portugueses, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Livros: Aprendizagem do Incerto; A Alegria da Comunicação (sobre Agustina Bessa-Luís); Teoria da Despossessão (sobre Maria Gabriela Llansol); Agustina Bessa-Luís, as Hipóteses do Romance; A Legitimação em Literatura; Carlos de Oliveira - O Testemunho Inadiável.
Palestra por ocasião do curso "Será a arte pertinente?" no espaço Forum Dança na Lx Factory

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

a morte do autor

Temos os nossos livros viciados. A leitura viciada. Os hábitos viciados. A escrita viciada. Escreve-se nas normas, andámos para trás. Há normas para escrever, para ler, para criticar. Não somos livres. Temos ideias feitas de escritores e poetas, ficção, ensaio, sabemos de  cada autor o que diz, o que pensa, orientação política, vida privada. Nem sempre sabemos o que escreve.
Estamos viciados na ideia de autor. Na caixa do autor. No estilo inconfundível do autor. O autor assassinou os seus próprios textos ao criar uma caixa muito bem decorada e se ter enfiado nela. O autor tem capas bonitas e paginação bonita. O autor vive de prémios e telejornais. O autor veste-se bem e apresenta-se com os seus amigos e editores em lançamentos de livros sem história. O autor dorme bem. Come bem. Dedica algumas horas por dia à escrita, outras à família, outras à vida social. O autor nem precisa muito de escrever mas escrever “abriu-lhe portas”. E isso é bom para o autor. Fica feliz e assim ainda dorme melhor e escreve melhor.
As normas escondem os monumentos de papel, os poemas que cravam espinhos na pele, os livros necessários. Com a morte do autor talvez a arte se reveja melhor em si mesma. Se liberte e se autonomize. Se amantize consigo própria. Se revele revolucionária para dentro. Mude vidas, visões, posturas. Nos dê respostas, nos faça formular perguntas.
Eu não queria matar o autor. Coitado. Mas se tiver que ser, seja.
Com a morte do autor permitimo-nos refazer juntos a  ideia de criação. Se não assinamos o papel ele não é nosso, é de quem o apanhar. A arte vira-se para “o outro” e “o outro” reutiliza-a. Cria outra história. A arte cresce e multiplica-se. E aí o autor também dorme melhor, come melhor. Mas por uma boa razão. Vá, uma razão melhor.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

mais um, este no sítio onde os livros andam à solta




Vamos falar de livros. Vamos falar de Pessoa, Cesariny, Gonçalo M. Tavares, Vergílio Ferreira, Ana Teresa Pereira, O'Neill, Saramago, Soeiro Pereira Gomes, Camilo Pessanha, Valter Hugo Mãe, Natália Correia. E mais. Vamos ser surrealistas, neo-realistas, existencialistas, modernistas, revolucionários, originais e realistas. Vamos saber quem andou por cá e o que por cá se andou a escrever nos últimos cento e muitos anos.

Com Rosa Azevedo

Curso de Literatura Portuguesa séc XX / XXI

1ª sessão - final do século XIX | abertura para as vanguardas do séc. XX
2ª sessão - Modernismo
3ª sessão - Surrealismo
4ª sessão - Neo-realismo | Existencialismo | poesia de intervenção
5ª sessão - Novos autores

2ª feiras, de 31 de Outubro a 28 de Novembro,
das 21h às 22h30, na Livraria Pó dos Livros.
Inscrições: podoslivros@sapo.pt / Tel: 21 795 9339
Curso: 50€