A questão da pertinência da arte é em si própria um problema. A arte deve libertar-se de qualquer "função" portanto a sua pertinência vem do próprio facto de ser impertinente, se entendermos a impertinência como algo que foge a qualquer regra ou convenção. A arte não deve ser útil, ou pertinente, ou relevante de qualquer forma, tem de ser autónoma. Esta automia da arte afirmou-se com o Romantismo Alemão. Foi aí que a arte perdeu o seu carácter utilitário perdendo também as orientações que vários tipos de "autoridade" lhe imputavam, nomeadamente a filosófica e a eclesiástica. Passou a caber ao artista e ao autor defender o que é arte. A partir daí começámos a esperar da arte o inesperado, a arte começou estar onde antes não imaginávamos que estivesse e o "inesperado" passou a ser uma característica da arte entendida como tal.
A arte procura a estranheza, a libertação da vida não enquanto vida pessoal mas enquanto potência criadora. A arte resiste à opinião, ao senso comum. A arte é anti-estereótipo, contra-evidência. Os artistas modernos são contra o conceito simples de beleza, do agradável e do bem feito. A arte dirige-se sempre o "outro", é um movimento de afastamento e aproximação, quer do artista com o outro quer do outro com o artista.
Jean-Luc Nancy descreveu a arte como "toque", toque enquanto momento de quebra, inquietação, descontinuidade. Não há regras que estabeleçam o que é e o que não é um trabalho artístico. No entanto há um elemento que perturba na obra de arte, esse toque de Nancy, que destabiliza, e que nos indica determinada obra enquanto obra artística.
Blanchot: "Nomeando o possível, respondendo o impossível"
Artaud: "É para os analfabtos que escrevo"
* Silvina Rodrigues Lope: Professora Catedrática do Departamento de Estudos Portugueses, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Livros: Aprendizagem do Incerto; A Alegria da Comunicação (sobre Agustina Bessa-Luís); Teoria da Despossessão (sobre Maria Gabriela Llansol); Agustina Bessa-Luís, as Hipóteses do Romance; A Legitimação em Literatura; Carlos de Oliveira - O Testemunho Inadiável.
Palestra por ocasião do curso "Será a arte pertinente?" no espaço Forum Dança na Lx Factory
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