quarta-feira, 29 de abril de 2015

vem aí o Reverso // Encontro de autores, artistas e editores independentes


na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul em Lisboa
14 a 16 de Maio de 2015

Mantendo a sua tradição de acolher vários encontros artísticos e culturais, a Cossoul, que comemora este ano 130 anos de existência, apresentará em Maio a primeira edição do REVERSO – ENCONTRO DE AUTORES, ARTISTAS E EDITORES INDEPENDENTES, que abrirá as portas a criadores de diversas nacionalidades.

Entre 14 e 16 de Maio de 2015, a programação deste evento consistirá num leque variado de iniciativas, que passarão por apresentações, mesas redondas, lançamentos, concertos, performances, recitais, exposições e uma feira do livro.
Sem propagandas messiânicas ou lógicas aglutinadoras, o intuito é o de acolher projectos independentes, revelando a vitalidade do que, nos nossos dias, se constrói e move para além da homogeneização das ditas indústrias culturais ou do espartilho global do mero entretenimento. Estabelecer eventuais pontos de contacto e partilha. Provocar o espaço da imaginação.
Por gosto, e por um pouco mais de cultura.

Organização: COSSOUL
Coordenadores: Paulo Tavares; Rosa Azevedo; Ricardo Ribeiro
Apoio: Cláudio Henriques, Fábio Daniel, Débora Figueiredo



Página do facebook.

sábado, 18 de abril de 2015

o dia em que descobri que ele trocava a vida por candeeiros velhos

gosto dos dias em que descubro livros preciosos. ontem, por causa do Carlos Vaz Marques e a TSF, ouvi um poema de León de Greiff de um livro recentemente publicado pela abysmo, Troco a Minha Vida por Candeeiros Velhos. 
o que me impressionou primeiro quando comecei a pesquisar o livro e o autor, foi descobrir o objecto incrível e cuidado que o livro é. no início tem três textos que contextualizam a obra, do Embaixador da Colômbia em Portugal, Germán Santamaría Barragán, de Jerónimo Pizarro, mentor e prefaciador, e Gastão Cruz, tradutor, que faz uma pequena e inspiradíssima reflexão sobre a tradução de poesia, não tão inspirada como as traduções que se seguem.
é um livro que, além dos textos referidos, fica ainda mais completo com fotografias, um glossário que explica a origem de muitas das palavras cuja tradução não chega para clarificar o contexto, e uma detalhada cronologia.
este pequeno livro é assim um objecto cuidado e completo, que se deixa ultrapassar pela beleza dos poemas modernistas cubanos que nos traz (o autor não adorava estas classificações literárias mas vamos usá-la para esclarecer o contexto). León de Greiff nasceu na Colômbia em 1895 e morre em 1976. É um dos mais importantes poetas colombianos com muitas ligações a Pessoa, ainda que a uma distância na época tão maior do que hoje. tem vários heterónimos, sendo os três mais importantes Leo Le Gris, Gaspar von der Nacht e Matías Aldecoa. foi um dos fundadores do movimento Panidas, um grupo de jovens que se juntava para falar do modernismo e da forma como o podiam trazer para a literatura. foi um dos nomes mais importantes da Revista Panida, de 1915, mesmo ano do Orfeu. é um poeta que acredita que a linguagem não lhe chega e por isso inventa palavras, dá-lhes novas dimensões textuais e culturais, o que torna ainda mais incrível o resultado das excelentes traduções de Gastão Cruz.
não há justiça no silêncio que tem rodeado este livro. quando o folheava tropecei num texto que li muitas vezes, primeiro o castelhano, depois a tadução, encontrando entre as duas uma plural dispersão de sentidos, uma beleza silenciosa, um monumento. ao reler o prefácio de Pizarro vejo que este se refere ao poema como a Tabacaria de Leon de Greiff. deixo o poema aqui, na versão original.


Canción de Sergio Stepansky

En el recodo de todo camino
la vida me depare el bravo amor:
y un vaso de aguardiente, ajenjo o vino,
de arak o vodka o kirsch, o de ginebra;
un verso libre -audaz como el azor-,
una canción, un perfume calino,
un grifo, un gerifalte un búho, una culebra...
 
(y el bravo amor, el bravo amor, el bravo amor!)
 
En el recodo de cada calleja
la vida me depare el raro albur:
-con el tabardo roto, con la cachimba vieja
y el chambergo agorero y el buido reojo,
vagar so la alta noche de enlutecido azur:
murciélago macabro, sortílega corneja,
ambular, divagar, discurrir al ritmo del antojo...
 
(y el raro albur, el raro albur, el raroalbur!)
 
En el recodo de todo sendero
la vida me depare a ésa mujer:
y un horizonte para mi sed de aventurero,
una música honda para surcar sus ondas,
un corto día, un lento amanecer,
un lastrado silencio hosco y austero,
la soledad, de pupilas redondas...
 
(y ésa mujer, ésa mujer, ésa mujer!)
 
En el recodo de cada vereda
la vida me depare el ebrio azar:
absorto ante el miraje que en mis ojos se enreda
vibre yo -Prometeo de mi tontura pávida-;
ante mis ojos fulvos, fulja el cobre del mar:
su canto, en mis oídos mi grito acallar pueda!  
y
exalte mi delirio su furia fría y ávida...
 
(el ebrio azar, el ebrio azar el ebrio azar!)
 
Y en el recodo de todo camino
la vida me depare “un bel morir":
despéineme un balazo del pecho el vello fino,
destríce un tajo acerbo mi sien osada y frágil:
-de mi cansancio el terco ir y venir:
la fábrica de ensueños -tesoro de Aladino-,
mi vida turbia y tarda, mi ilusión tensa y ágil...-
 
(un bel morir, un bel morir, un bel morir!)
 
Netupiromba Finado 18 noviembre 1931

quarta-feira, 15 de abril de 2015

basta editar para sermos editores?

estamos numa época cinzenta, numa fase transitória para aprendermos a lidar com as facilidades que nos trouxe a globalização e a difusão monumental do fenómeno da internet e das suas múltiplas possibilidades. agora é mais fácil ter acesso ao conhecimento, o mundo fica pequeno, as distâncias relativizam-se. a comunicação alastra e temos acesso uns aos outros e às actividades de cada um de forma rápida e eficiente. estamos mais próximos, mais comprometidos e envolvidos.

no que respeita à edição creio que este fenómeno tem características muito interessantes. é tudo mais fácil. conhecer autores e editores em rede, partilhar textos, comunicar novas edições, gravações audio dos textos para além de textos escritos. como tenho referido recentemente, este fenómeno onde todos escrevem e todos publicam não tem mal nenhum, dá é mais trabalho a um leitor real. porque tem de ler cem para encontrar cinco muito bons e três destes se calhar não teriam publicado se não fosse este fenómeno.

no entanto há também pontos negativos. e esses pontos negativos devem ser bem observados e bem pensados, de forma mais crítica do que antes, antes do fenómeno. o nosso sentido crítico tem de ser mais trabalhado e mais assertivo.

esta velocidade furiosa traz-nos muitas vezes textos pouco maturados, de autores que não lêem porque acreditam que a inspiração escreve livros. mas este meu texto não é sobre eles. é sobre os editores. e aqui gostava que este texto se transformasse mais num questionamento. onde está a linha que diz que alguém é realmente um editor? uma questão que podia ser simples, não o é. hoje em dia qualquer pessoa pode pegar em alguns poemas de um amigo, imprimir de forma barata numa gráfica e afirmar-se como editor de revista ou de um livro. se pintar um quadro não sou pintora, se me puser na rua a cantar em voz alta não sou fadista (a sério que não seria...), dar uma aula a uma criança em casa não me torna professora e daí por diante. onde está a linha?

não acredito em formações académicas, se bem que é a única que dá diplomas. não acredito em absoluto (eu tenho um diploma de edição e estou longe de o ser). os melhores editores que conheço e que o são com toda a propriedade são editores que aprenderam a ser editores a ler, muito, a criar critérios, a envergonharem-se de alguns livros, a trabalhar, a pensar, a conviver com escritores. se calhar com isto estou a afirmar que conheço a minha linha ténue, ainda que não a consiga definir. será que há alguma forma de o fazer?

terça-feira, 14 de abril de 2015

Escrever Poesia Hoje



O Muito cá de casa recebe no próximo dia 17 a antologia da Editora Mariposa azual, Voo Rasante.
Reunem-se aqui 67 poetas num único volume de textos na sua maioria inéditos. Regista-se neste documento a escrita de muitos autores que publicam em pequenas editoras, com pequenas tiragens, nalguns casos de apenas 100 exemplares. São, na sua maior parte, pouco conhecidos ou mesmo desconhecidos da maioria dos leitores. Circulam em pequenos grupos de admiradores, que na maior parte das vezes não se conhecem entre si.
São de Lisboa, do Porto, de Coimbra, das Caldas da Rainha, de Coimbra, de Guimarães, de Faro; vivem na Grécia, na Finlândia, em Londres, em Salamanca ou noutras cidades da Europa. Foram também convidados alguns autores brasileiros, de São Paulo, do Rio, de Minas, do Ceará, que vivem em Paris, em Berlim ou em Portugal. Todos escrevem poesia em português.

Um VOO RASANTE sobre uma realidade extensa, que não se esgota nestas páginas. Que abre as asas para ela.

Por ocasião do lançamento vamos falar sobre o que é escrever poesia hoje. Para isso contamos com a presença da editora Helena Vieira e o autor e crítico literário José Mário Silva. Para além disso a poeta Marta Navarro estará lá para ler alguns textos e falar connosco.


A moderação será minha, a organização de José Teófilo Duarte. Como sempre na Casa Da Cultura | Setúbal, 22h.



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