sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

PRÉ-VENDA / INÚTIL, colecção de poesia da Snob




Apresentamos agora a nossa nova colecção de poesia, colecção INÚTIL, com o lançamento de dois livros de dois autores fundamentais do séc XX. O Maiakowski traz consigo a voz e participação do tradutor Adolfo Luxúria Canibal, e o Rilke chegou-nos pela mão do querido amigo Rui Caeiro, que infelizmente não viu esta nova edição, mas que carinhosamente saudou a sua chegada. Traduziu este livro com a amiga de longa data, Ana Diogo, é uma tradução a quatro mãos. Um livro traz-nos o grito, o outro o silêncio.

Os livros estão em pré-venda até dia 28 de Fevereiro. O nome de todos os que o(s) comprarem antecipadamente figurará na última página do(s) livro(s). São nossos e vossos. Os livros estão em pré-venda pelo valor de 15€ os dois (Maiakowski 8€ / Rilke 7€ se quiserem apenas um deles)*, com portes de envio incluídos para Portugal Continental. Mas também enviamos para qualquer parte do mundo. Para isso deverão transferir o valor pretendido para o IBAN: PT50 0035 0995 00674695530 36 (José Duarte da Silva Pereira), enviando comprovativo e nome e título do livro pretendido - para figurar nos agradecimentos - para os livreiros por aqui ou para editorasnob@gmail.com. Podem também manifestar a vossa vontade na caixa de comentários.

Podem levantar os vossos livros a partir de 15 de Março nos vários lançamentos ou nas nossas livrarias (Livraria da Cossoul ou Almanaque 23).

Obrigado por serem leitores tão snobes como nós.



Mais sobre nós no nosso site: http://www.livrariasnob.pt/

* Preço de venda ao público após pré-venda: 22€ os dois (Maiakowski 12€ / Rilke 10€)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Córtazar e o erotismo

Hoje é o dia de se falar de Cortázar, desaparecido para ser eternamente cronópio há 35 anos.

Toco a tua boca.
Com um dedo, toco a borda da tua boca, desenhando-a como se saísse da minha mão, como se a tua boca se entreabrisse pela primeira vez, e basta-me fechar os olhos para tudo desfazer e começar de novo, faço nascer outra vez a boca que desejo, a boca que a minha mão define e desenha na tua cara, uma boca escolhida entre todas as bocas, escolhida por mim com soberana liberdade para desenhá-la com a minha mão na tua cara e que, por um acaso que não procuro compreender, coincide exactamente com a tua boca, que sorri por baixo da que a minha mão te desenha.
Olhas-me, de perto me olhas, cada vez mais de perto, e então brincamos aos ciclopes, olhando-nos cada vez mais de perto. Os olhos agigantam-se, aproximam-se entre si, sobrepõem-se, e os ciclopes olham-se, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam sem vontade, mordendo-se com os lábios, quase não apoiando a língua nos dentes, brincando nos seus espaços onde um ar pesado vai e vem com um perfume velho e um silêncio. Então as minhas mãos tentam fundir-se no teu cabelo, acariciar lentamente as profundezas do teu cabelo enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de uma fragrância obscura. E se nos mordemos a dor é doce, e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo do fôlego, essa morte instantânea é bela. E há apenas uma saliva e apenas um sabor a fruta madura, e eu sinto-te tremer em mim como a lua na água.



O Jogo do Mundo (Rayuela), de Julio Cortázar, tradução de Alberto Simões, Cavalo de Ferro, 2008