Não faças Terrorismo Poético para outros artistas, fá-lo para pessoas que não perceberão que o que acabaste de fazer é arte. Hakim Bey
quarta-feira, 12 de junho de 2013
A Purga
Há livros que de alguma forma são
lidos como monumentos. Já o disse muitas vezes, tenho um fraquinho
por livros em que a violência vem de dentro para fora. E livros em que
a história vem das personagens e menos do enredo. A Purga tem isto
tudo. Escrito na Finlândia por Sofi Oksanen conta uma parte
importante da história da Estónia através da história de duas
mulheres de duas gerações diferentes. Um enredo repleto de segredos
e que pisa durante todo o livro o gelo fino das relações familiares
e do amor à família que pode ou não ser mais forte que o instinto
de sobrevivência. Mas não pensem que aqui entramos em clichés. Não
há clichés nem lugares comuns neste livro. Há retalhos de uma
história que é contada ao mesmo tempo que é montada dentro da
nossa imaginação. O livro leva-nos num labirinto onde não nos
perdemos ainda que saibamos que estamos dentro de um caminho
tortuoso. Com descrições inacreditáveis, com destaque para a cena
inicial em que Aliide encontra Zara caída no quintal e para a cena
em que Aliide descobre a verdade sobre Zara e esta está fechada no compartimento às escuras esmagada pela vergonha e medo, o livro
transporta-nos numa leitura que é ao mesmo tempo caótica e
pacífica, uma mistura difícil de conseguir e que aqui é conseguida com uma mestria única. Com duas personagens que significam ao mesmo tempo a
esfera privada e pública da história da Estónia este livro
torna-se absorvente e inesquecível. Um livro a sério. Um livro a
sério, sim. Que nos enche as medidas na história, na estória, nas
personagens, na escrita simples, clara e crua de Sofi Oksanen.
Precisamos de mais Sofi Oksanen. Com mais este livro a Alfaguara
caminha para aquele sítio místico onde coloco duas ou três
editoras portugueses – se eles publicam é bom. As provas que nos
têm dado são essas. E A Purga é uma bomba no nosso panorama editorial. Um
livro com todas as letras maiúsculas.
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2 comentários:
Vivo na Finlândia, o que faz com que o nome dessa escritora me seja muito familiar. Não fazia ideia se valeria a pena ler ou se demasiado "hype" como actualmente se vê em alguns casos.
Se recomendas, vou ler.
Obrigada pelas sugestões que dás no blogue.
Deste-me a conhecer já vários escritores maravilhosos.
Catarina, que bom saber que gostas de vir aqui :) encheste-me o dia. E vais amar A Purga, depois conta-me!
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