o meu primeiro poeta que morreu foi o antónio gedeão. é verdade. eu era pequena e adorava-o, andava com ele para cima e para baixo, achava que ele tinha um poder qualquer de me dar respostas quando eu andava desorientada. quando ele morreu eu tinha 15 anos e chorei a noite toda. eu era uma bomba emocional na altura mas aquilo custou-me como se o conhecesse. era uma relação de intimidade e proximidade que só se tem com os poetas.
hoje foi o dia do ramos rosa. tive desde muito cedo também uma relação de intimidade com este meu poeta. o meu primeiro blog de poesia tinha o nome de um verso dele. citava-o sempre em ocasiões que parecia que não era ele quem se esperava. aproximou-me de muitos amigos que o conheciam como eu. foi o primeiro livro que me angustei de ter perdido e que era um livro de um equilíbrio perfeito, Viagem através duma nebulosa. os livros dele foram das melhores prendas que fui recebendo sempre em dias importantes. há sempre qualquer coisa que vai com eles, com os nossos poetas que não ficam. secam as palavras, as deles e as deles nos nossos olhos. a obra cristaliza. fica a poesia que se desmultiplica. deixou-nos dezenas de livros, um deles perfeito. é, para mim, o maior legado. deixo-vos o poema dele que muitos dias me ecoa na cabeça. foi meu muitas vezes e oferecido por ele a mim e por mim a tantos.
perdoem-me se puderem o excesso de emoção, mas há poucas outras formas para dias como o de hoje.
Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.
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