num dia de Verão, na praia do Almograve, juntei quatro crianças à volta de uma toalha (e a minha mãe também) e pedi-lhes que contassem a história do livro de ilustração do Afonso Cruz, CAPITAL, da Pato Lógico. entre muitas invenções e trabalho de imaginação saiu esta bela história. Assinam a história
Leonor (14), Afonso (12), Luísa (6), Guilherme (7), Graça (não se diz a idade das senhoras). a fixação do texto é minha, as palavras deles. se tiverem o livro acompanhem com as imagens, torna tudo muito mais divertido.
Era uma vez um homem grande, com mãos
gigantes e saltos altos, que ofereceu ao seu neto, Finn, um porco
mealheiro. Finn apaixonou-se pelo mealheiro e andava com ele para
todo o lado. Chamou-lhe Jake. Às vezes Jake ganhava vida e fazia cocó no chão mas Jake era tão
especial que o cocó dele cheirava a rosas da cor do arco-íris e a
chocolate. Finn gostava disto porque era daltónico e tinha por isso
desenvolvido um extraordinário olfacto. Jake também não dormia
porque sentia que tinha de proteger Finn que era asmático. Ficava a
noite toda a olhar para ele para ter a certeza de que tinha um sonho
tranquilo.
Finn e Jake cresceram juntos. Jake ia
crescendo com as moedas que Finn lhe tinha dado, e não eram moedas
de chocolate... Finn levava Jake para todo o lado. Levava-o muitas
vezes com a avó ao parque, uma senhora com uma figura muito
especial, sempre com as suas meias de descanso cinzentas, pelos na
cara e puns tão ruidosos que atraíam os estranhos pássaros do
parque que a seguiam para todo o lado.
Finn tinha um namorado, Felisberto, e
ambos jogavam futebol na praia. Jake era a mascote e assistia a todos
os jogos. Nesses passeios ao ar livre Finn jogava com o porco ao
busca a moeda. Jake era cada dia mais maluco por moedas e por vezes
desaparecia para as procurar durante imenso tempo. Finn teve mesmo
de, a certa altura, usar uma trela. Todos o adoravam e lhe faziam
festas quando passava.
Jake era insaciável. As moedas que
Finn lhe dava começaram a ser insuficientes. Finn decide assim casar
com Clarabóia, uma menina de boas famílias que conhecera no parque.
Felisberto fica desiludido mas aceita, pois percebe que Jake se
tornaria insuportável se não tivesse mais moedas.
Com o passar do tempo Jake começa a
ficar agressivo e a comer pessoas, as moedas já não lhe chegavam.
Comia pessoas ricas, claro. Felisberto fica preocupado e tenta avisar
Finn, que parece bastante confortável com a situação. Finn na
verdade começava a enriquecer e tentava, sem grande sucesso ao
início, mostrar a Felisberto a beleza desta nova vida. Finn
parecia-se cada vez mais com o avô que lhe tinha dado o Jake. As
mãos cresciam desmesuradamente. Com o tempo Felisberto começa a
ceder e a pensar que talvez Finn tenha mesmo razão, ao ver o luxo e
o brilho que rodeavam Finn, que se vestia sempre de forma elegante com
fato e gravata e passava o dia a beber champagne. Felisberto acaba
por aceder a tornar-se sócio da Empresa do Dinheiro, a empresa de
Finn.
Mas assim que Felisberto enriquece é
comido pelo porco Jake. Clarabóia começa a assustar-se com a
agressividade do mealheiro e mesmo Finn começa a reparar que este
está descontrolado. É o salve-se quem puder. Na verdade Jake está
cada vez mais insaciável. Já não lhe chegam as moedas, nem as
pessoas, nem as pessoas ricas, nem as casas que come, nem cidades
inteiras. Jake acaba por comer o planeta que agora já não existe,
existe sim um porco gigante em órbita, à volta do sol.