Quando lemos constroem-se cidades. Há prédios altos e casas pequenas. Bairros operários e ruas com uma árvore em cada jardim. Há ruas de lodo e mau cheiro. Há aquele recanto secreto que só nós conhecemos e que fazemos questão (por vergonha?) de não dizer a ninguém que existe. É a nossa cidade invisível. Construída de leituras, as primeiras, as que escolhemos, aquelas em que tropeçámos.
As leituras nunca são iguais, mas será que há leituras vazias? Leituras que não constroem nada. Leituras que não entram na nossa cidade. Quando faço mudanças há sempre um livro que encontro e que já não me lembrava nada de ter lido. Muitas vezes quando o folheio a cidade grita e eu lembro-me da rua que ele ajudou a construir. Ou então não. Será porque não construiu nada? Ou porque a cidade está esquecida?
"Mas foi inutilmente que parti em viagem para visitar a cidade: obrigada a permanecer imóvel e igual a si própria para melhor ser recordada, Zora estagnou, desfez-se e desapareceu. A Terra esqueceu-a"
Italo Calvino, As Cidades Invisíveis
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