É claro que a leitura não surge por acaso. E, mesmo que surgisse, deixava de ser um acaso no momento em que existe. Porque a leitura liga sempre a outras leituras, já feitas e, arrisco mesmo a dizer, por fazer. Como uma teia, cada livro muda as leituras futuras e as passadas, e também a nossa leitura interior. Muda porque acrescenta alguma intenção ao Leitor. São cidades em teia, como uma das cidades de Calvino.
O acaso vem do momento em que escolhemos começar a ler um livro. Quando temos em casa aquela pilha de livros não lidos mais a nossa lista interna de livros por ler, surge um outro que, por qualquer razão, vai ser lido antes dos outros. E aí começa a viagem - fazer com que esse acaso acabe por encaixar dentro da nossa cidade. E, atenção, esse encaixe é inevitável. Não há leituras vazias. Há, sim, leituras que constroem partes diferentes das cidades.
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