Tenho com os livros uma relação obsessiva de amor. E eles não se queixam, é recíproco. Ando obsessivamente com livros dentro da mala que depois não leio, se leio não gosto, corro para apanhar o metro, para o Pingo Doce, para o trabalho, adormeço nos transportes, em casa tenho noites de amigos à espera. Não os leio, não tenho tempo para eles. Mas às vezes leio só uma página e treme-me a alma e o corpo. Estou com o João à janela, imito um polvo que lê, tiro um livro ao acaso (para o dito polvo) e ele mostra-me um poema de Manuel António Pina que ele (como outros, como ele diz) completou. Com o João lá em casa dá-me saudades de Boris Vian e vou à estante e encontro fora do sítio um livro de Sartre que não me lembrava de ter. E lembro-me do livro de Sartre que comprei na Trama e que ainda não li, vou buscá-lo, meto na mala. E ao pensar na Trama lembro-me do Clube do Livro, lembro-me que nunca acabei o Mesmo Mar, do Amos Oz, que como é prosa poética fica ao pé de mim para perto dos livros de poesia que dormem ao meu lado e me mostram um poema por dia, sempre antes de dormir. E vejo a Antologia de Poesia que o Tiago me deu, que está ao lado da Bíblia que leio às vezes, que me fez rir com a história de Abel e Caim, que me faz lembrar o a Leste do Paraíso, do Steinbeck, que parte dessa história, e que foi o livro que mais amei e penso no filme de Kazan.
Os livros são isto para mim, mesmo que não tenha tempo para os ler, já os li quase todos e fazem parte da minha memória, do meu dia, dos meus gestos quotidianos. Sou apaixonada por eles.
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