segunda-feira, 3 de junho de 2013

carreirismo(s)

há muitas formas de ver o trabalho. a forma como vivi estes últimos dez anos foi exactamente a tentar perceber de que forma eu queria viver o meu trabalho. e ultimamente têm acontecido muitas coisas que me têm feito pensar muito nisto. estar num trabalho do qual não consigo sair por ter boas "condições". o falar hoje de utopia e do que seria uma sociedade utópica para nós. a falta de dinheiro ao fim do mês. o ter amigos que arriscam muito mais do que eu conseguirei alguma vez arriscar. o terem-nos perguntado hoje que legado queremos deixar depois de morrer - pelo que queremos ser lembrados.
eu gosto de trabalhar. gosto da ideia de criar, construir um produto. mas gosto da ideia de o passar aos outros depois. de haver algo de comunitário no que estou a fazer. na construção de um produto útil que acrescente algo importante a quem o recebe. para além do meu emprego todo o trabalho que eu faço é criado por mim, não é encomendado ou pedido externamente. isto tem dois lados muito importantes que não podem ser esquecidos: por um lado é uma liberdade imensa porque depende só de mim (e eu não preciso de "obrigações" ou "prazos" para me meter na arena); por outro lado o meu trabalho não é procurado por ninguém (pelo menos não na larga maioria das vezes) - é procurado depois do produto terminado mas ninguém me procura para que crie esse produto. são dois lados que se equilibram e o resultado final do que tenho feito supera em absoluto qualquer expectativa ou hesitação. ver que nos cursos vão pessoas de outros cursos que compraram os livros de que lhes falei, vê-los a tratar os meus autores por tu. ver que de uma semana para a outra leram livros de que falei para ainda poderem falar deles em aula. ver os eventos cheios de gente que quer que existam mais. ver as perguntas que suscitam, os e-mails, o reconhecimento através da leitura.
hoje pensei muito nisto - muitos acreditam que a carreira é o oposto da vida pessoal. eu não criei uma crença do contrário, criei uma vivência do oposto. eu sou os meus livros, as minhas pessoas e os meus eventos. o meu boris vian e o meu cesariny. e sou a minha família, os meus amigos e os meus filmes. e as minhas viagens. mas neste sítio onde estou agora poucas coisas me agradam mais do que estar aqui uma noite em silêncio de volta dos meus surrealistas a ter, numa noite, um curso inteiro desenhado. há tempo para tudo nos meus dias mas estes são os dias mais meus.
se a minha carreira for ler e pôr pessoas a ler então não é em nada um oposto da minha vida pessoal e emocional. mesmo que não venha daí o dinheiro das contas. e o único legado que pretendo deixar é ter posto pessoas a ler, em bom. e isso é do caraças.

5 comentários:

Anónimo disse...

Boris Vian precisa de ser defendido dos seus fãs.

Por outro lado o VaLtEr hUgO mÃe está muito bem servido.

rosa disse...

Não percebi o comentário podes explicar?

rosa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Joana P. disse...

Eu sou uma dessas pessoas que, com os teus cursos, começaram a ler coisas muito boas. Não pude deixar de comentar, porque de facto a paixão com que falas dos teus autores é contagiante e faz despertar uma curiosidade super saudável.
Obrigada! :)

rosa disse...

que bom :)
um grande obrigada eu, é tão bom haver gente "desse lado"