sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

[do fim das formas literárias]

Em todos esses arautos da modernidade se assiste ao nascimento do poema sem eu e sem arroubos expressivos, do "drama-poesia" no sentido que a expressão ganha em alguém como Maria Gabriela Llansol, que, rejeitando a poesia como forma de expressão, assimila totalmente ao seu texto de prosa esta postura do sujeito posto à distância, numa escrita muitas vezes referida como "poética", mas que recusa os excessos da emoção ("sem perda de sensibilidade") e da projecção (auto)biográfica, através do trabalho, antimimético, de (trans)figuração na linguagem. E aqui, como em tanto poema autenticamente moderno, figurar, criar figura, é objectivar a expressão. Para Llansol, é esse "o poema que vai adiante": o de uma linguagem com um alto grau de originalidade, numa busca incessante da energia do "sexo do texto", incomparavelmente criativa e carregada de interrogações, mas também da densidade do novo que forma uma trama cerradíssima, numa escrita sempre fragmentária, completa e sempre sem resto.

Geografia Imaterial
João Barrento
Documenta, 2014

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