Em todos esses arautos da modernidade se assiste ao nascimento do poema
sem eu e sem arroubos expressivos, do "drama-poesia" no sentido que a
expressão ganha em alguém como Maria Gabriela Llansol, que, rejeitando a
poesia como forma de expressão, assimila totalmente ao seu texto de
prosa esta postura do sujeito posto à distância, numa escrita muitas
vezes referida como "poética", mas que recusa os excessos da emoção
("sem perda de sensibilidade") e da
projecção (auto)biográfica, através do trabalho, antimimético, de
(trans)figuração na linguagem. E aqui, como em tanto poema
autenticamente moderno, figurar, criar figura, é objectivar a expressão.
Para Llansol, é esse "o poema que vai adiante": o de uma linguagem com
um alto grau de originalidade, numa busca incessante da energia do "sexo
do texto", incomparavelmente criativa e carregada de interrogações, mas
também da densidade do novo que forma uma trama cerradíssima, numa
escrita sempre fragmentária, completa e sempre sem resto.
Geografia Imaterial
João Barrento
Documenta, 2014
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