Enquanto me misturo em folhas e livros para o workshop que aí vem penso nas rupturas que os "mal comportados" procuram. Tudo o que hoje nos chega da Literatura Portuguesa do século passado é fruto de rupturas, manifestos que contestam a literatura anterior. O Realismo (ainda no século XIX) e a Geração de 70 contestam o Romantismo, o Modernismo contesta o Realismo, a Presença o Modernismo, o Surrealismo a Presença, o Neo-realismo o Surrealismo... (isto claro na vertente simplista da "coisa" que nada disto é bem assim). Seja como for vê-se o que é original, lê-se o que é novo e que provoca os espíritos. O Surrealismo poderia ser mais provocador do que o Neo-realismo mas o Neo-realismo era mais importante naquela fase, mais necessário. O mesmo se passou no cinema, nas artes plásticas. O mesmo acontece na vida de todos os dias, onde os momentos que nos definem acabam por ser os movimentos de ruptura e revolta, não necessariamente negativos. Aliás na literatura quase nenhum movimento foi na verdade um movimento de ruptura negativa. Cesário Verde considerado muito próximo do Realismo, chamou a atenção para a Teoria das Correspondências, de Baudelaire, que fez nascer o Simbolismo cujo principal autor foi Camilo Pessanha que foi editado pela primeira vez pelos Modernistas.
O que importa aqui é que as rupturas são necessárias, saudáveis e as melhores amigas da criatividade e da arte original. Há décadas que não assistimos, aqui e no resto do Mundo, a verdadeiros movimentos de ruptura literária. Talvez porque esta democratização da Literatura (tão ambígua que ela é) onde tudo se lê e todos lêem dispersou a Literatura por aí. Ou então porque esta mesma democratização permitiu que o que se faz chegue a um maior número de pessoas. Porque na primeira metade do século passado muito do que se escreveu não chegou até nós.
É dessa ruptura que estamos a precisar. Em todas as áreas. Estamos artística e ideologicamente adormecidos, reeditam-se dinossauros mal comportados mas arrisca-se pouco ou nada em novos nomes mal comportados. Temos de os encontrar. Eles estão por aí.
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