quarta-feira, 26 de junho de 2013

Franzen did it again


vou falar do Correcções a começar pelo fim. pelo momento em que o Chip chega a casa a tempo do pequeno-almoço de Natal em família, o último, segundo a mãe Enid. é o momento mais pacífico e idílico de todo o livro. com a mestria de sempre, Franzen dá-nos a volta com a subtileza da escrita e convence-nos, por uma única vez no livro, que aquela família não está absolutamente condenada ao abismo. só aí. ou a partir daí (é uma segunda leitura, discutível). é disso que nos fala o livro. de uma família absolutamente disfuncional com diversos núcleos. Gary e Caroline aparentam ser, no início do livro, o casal mais estável, com três filhos (não será de todo inocente que dois deles se chamem Caleb e Aaron, como no A Leste do Paraíso do Steinbeck, numa referência, aqui explícita, a Abel e Caim). no entanto é dentro da vida deste casal que Franzen se foca mais detalhadamente, com passagens em tempo real de diálogos e referências, mostrando-nos, sem descrever, a dor profunda que se vive dentro do casal e a forma como os miúdos nunca saberão gerir isso. Denise, a irmã mais nova vai sendo apresentada aos poucos, muito lentamente ao longo das mais de 500 páginas. quanto mais Franzen nos revela Denise mais nos apaixonamos por ela. pela forma de estar livre e de ser convicta, pela forma como não questiona a sua bissexualidade revelada apenas na sua forma de amar e não de viver a própria sexualidade. Chip é o mais disparatado e perdido, por quem o pai, Alfred, chama sempre, mesmo não estando ele em casa. Chip é o que mais surpreende no final, por ser quem realmente fica. fez-me lembrar o meu irmão. Alfred e Enid são os pais, representados entre a dureza e a caricatura, numa espiral tanto de tristeza como de esperança.
este é um livro sobre a família. sobre todas as famílias. sobre como as famílias se corrigem indesistivelmente até ao final. do livro e de tudo. como nas famílias as dores se reciclam para serem úteis e renovadoras. este é um grande livro. um livro corajoso para leitores corajosos. Franzen did it again. e não vos falo da correcção final, terão de ler o livro. mas posso dizer desde já que aqui vemos que é a família quem mais nos destrói e ao mesmo tempo a quem recorremos sempre para respirar. para nos corrigirmos. mesmo com o baixo nível de tolerância que todos eles têm uns pelos outros. o amor fraternal de Denise e Chip sempre no limite destrutivo. o amor de Enid ao neto. a vontade de Jonah, o neto, em não trazer tristeza à avó. as conversas de Denise com o pai durante os exercícios. a crueldade de Gary. estamos neste livro no plano mais íntimo desta família. e não são poucas as vezes que nos incomodamos, que nos sentimos a mais, que nos sentimos a invadir o espaço que não nos pertence. e no fim quase nem é difícil largar o livro. porque é no momento que todos eles largam uma amarra qualquer. e aí, sem vos contar o fim vos digo - não é crueldade ou maldade. é aquilo que, na família, nos permite corrigirmo-nos, aprendendo.
   

2 comentários:

Andreia Azevedo Moreira disse...

Só nos dois dias que precederam este já acrescentaste, pelo menos, três livros à minha Biblioteca. Obrigada.

rosa disse...

any time :)