O da Joana conta um só episódio
traumático para Joana e para Jorge, o marido. depois de uma primeira
cena genial, envolvente e misteriosa que nos embarca numa cena que
nos corta a respiração entramos numa história onde achamos, durante
poucas linhas, que podemos respirar do ambiente em que embarcámos na
primeira cena. mas não. a espiral descendente deste livro começa
logo no início e não termina. nunca percebemos o ponto de vista
real do livro, o que, a meu ver, é o que de mais interessante e
inovador podemos ler neste livro – ao nunca percebermos o ponto de
vista que estamos a ler nunca sabemos o que é real e o que é fruto
da crescente loucura da personagem. nunca percebemos em que universo
estamos. é uma escrita corrida e respirada. Ao mesmo tempo
asfixiante e dolorosa. um exercício de estilo e uma forte
manipulação psicológica. uma manipulação que nos faz amar e
detestar a Joana, sentir piedade e medo, angústia e uma doce
simpatia. nada é pacífico naquele livro que se lê rápido e nos
deixa um rasto de angústia duradouro. um livro que alterna entre profundidade
e tona de água. o que acontece à própria Joana, que vem por vezes à tona de
água da realidade. mas nós nunca percebemos onde está a sua, logo, a nossa realidade. só podemos adivinhar.
não é um livro fácil mas é um livro
necessário para quem gosta de escritores. e o Valério Romão é
daqueles bons escritores que prometem muito. E isso é tão raro como
incrível. Fazia falta o Valério Romão antes de saber que existia. fazia falta alguém que usasse a arte crua das palavras sendo
escritor sem a arte do enfeite. aquilo é a verdade – a pior das verdades,
mas a verdade. e poucas vezes é fácil falar da verdade. e ele consegue. sem medos.
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