Começa a ser raro
vermos quem sinta a verdadeira importância do livreiro nos seus
quotidianos. A própria profissão é desconhecida, ainda, para
muitos. Na verdade é também difícil de definir, há livreiros que
não trabalham em livrarias e há vendedores de livros que não são
livreiros. Na verdade os leitores começam a deixar de acreditar que
precisam de intermediários para a leitura. Num mundo tão cheio de
estímulos, com a internet inundada de opiniões que se dão com a
facilidade de um clique, nem sempre os livreiros são vistos como
mediadores da leitura. Não podemos esquecer que há mais leitores e
mais diversificados. Esse facto também leva a que muitos destes se
tenham formado longe da figura do livreiro. Noutros sítios.
Vender livros não é
igual a vender outro produto qualquer. Não o é em nenhum dos
sentidos. Um livreiro não vende um produto apenas. Vende ligações
a esse produto, vende outros livros. Vende um livro que corresponde a
uma ideia, um anseio, uma vontade de conhecimento, uma dúvida
pequena. Um livreiro fará um bom negócio (e não podemos esquecer
que uma livraria é um negócio) se conseguir que um cliente passe a
leitor. Para isso é preciso ensinar a um cliente que nada se lê
isoladamente, os livros não existem entre a capa e a contra-capa. Um
livreiro torna-se um bom livreiro se for um agente de ligações, se
funcionar como o motor que instala no leitor esse vírus das
ligações. Quem o consegue são por vezes pessoas improváveis, em
livrarias improváveis, noutros sítios que não são livrarias, por
pessoas que não vendem livros. Nas estantes dos desconhecidos, nas
estantes dos amigos. Em blogs, nas redes sociais ou nas conversas de
cafés.
Ser livreiro é
criar leitores. Só assim as livrarias podem sobreviver enquanto
negócio. Posto isto é fácil afirmar que as livrarias são sítios
de crescimento, de criação e aprendizagem. Daí a nossa
responsabilidade em mantê-las vivas e a funcionar, quando pensamos
onde vamos comprar um livro. São os leitores que as fazem existir
mas por trás de cada uma há livreiros que são a porta da livraria.
Os nossos agentes de ligações. Aqui na Culsete há dois, a Fátima
e o Manel. Hoje esta mais que merecida homenagem é a eles e aos
leitores que eles criaram. Não temos de ter muitas palavras porque
são 40 anos a mostrar, com esta porta aberta, com o reconhecimento
dos subscritores do diploma Livreiro da Esperança Especial, com o
nome que tão facilmente é reconhecido em qualquer lado, com o
Encontro Livreiro que nasceu aqui, que são livreiros à séria, que
deixam e continuam a deixar o melhor de todos os legados, uma fila
interminável de leitores."
texto lido na Culsete, a 30 de Novembro de 2013
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