"Nenhum ser humano difere tanto de nós que não o possamos entender"
Como captou aquele universo? Eu acho sinceramente que nós temos as respostas para todas as preocupações das pessoas. Somos seres humanos. E nenhum ser humano difere de nós tanto que não o possamos entender. Intensificando as questões nós encontramos as respostas cá dentro. E através disso colocamo-nos no lugar dos outros. Acredito que esta espécie de inteligência emocional nos permite chegar ao lugar do outro. Eu parti para aquele livro, a partir de um episódio passado num café, em que alguém disse: " Detesto esses gajos, detesto ucranianos e detesto brasileiros". Foi tudo tão liminar e aquilo agrediu-me. E lembro-me de na altura pensar: "deves chegar ao fim do dia muito cansada por odiar tantos milhões de pessoas". E achei que aquela questão me interessava, ainda por cima somos um país de fazer estrangeiros lá fora. Depois, tive uma conversa com um rapaz de 14 e uma conversa menor com um rapaz de 18. E foram os ucranianos que conheci melhor. Só depois de ter publicado o livro é que os ucranianos se aproximaram. Um, em Lisboa ofereceu-me um colar da sorte. E eu fiz-lhe uma pergunta que era muito importante para mim: "Se o meu livro respeitava o povo dele?" e ele disse-me que sim. Ele emocionou-se e eu também.
Por falar em livros, o próximo chama-se "O filho de mil homens". É assim? Sim, é.
Está escrito? Está acabado e vai sair em Setembro. Vai entrar em impressão nos próximos dias. Estamos a terminar a capa.
É uma obra com muitas personagens, com poucas, mais focado? Tem muitas personagens. Acabo sempre por criar uma boa vizinhança.
É autobiográfico? Não é. Mas parte de uma premissa que coincide comigo. Não tive filhos e quero ter filhos. E vou fazer 40 anos e o Crisóstomo, a personagem principal, vai fazer 40 anos. E o Crisóstomo anda muito angustiado. Eu não posso dizer que ando assim tão angustiado. No Brasil, devem ter achado isso. Mas é uma coisa que começo a perceber agora. A falta dos filhos atinge-me.
É uma falta sentida recentemente? Surgiu há coisa de dois, três anos. Antes adorava as criancinhas nos colos dos papás, mas achava que não tinha condições de organização para cuidar de alguém, que me ia esquecer dele. Subitamente, parece-me que não é assim, que não me ia esquecer de lhe dar de comer.
(valter hugo mãe)
tudo para gostar aqui. e atenção aos comentários. a mim não me desgosta que haja tanta gente que ainda não o percebeu. dá-me um certo gosto de piscar de olhos.
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