quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Os livros são grandes de mais para os meus metros quadrados

Ando há dias a pensar nos livros que leio. No que é ser leitor, mas leitor a sério. Não é devorador de livros ou leitor de praia. É ser leitor, é precisar de ter os livros ao pé. Eu quero saber a história dos livros. Ler não é só ler o que o livro diz, é ler também o próprio livro.
Hoje peguei num livro da Assírio e Alvim mas da Assírio antiga, a do Hermínio. Aquelas capas, o logotipo desenhado daquela forma, aquilo conta-me uma história. A história da primeira vez que o meu pai me mostrou as obras completas de António Maria Lisboa, com a capa cor-de-rosa, ou aquela vez em que me  mostrou a Poesia Toda do Herberto, livro que roubei ao meu irmão, colei a capa, e tenho-o lá ao pé de mim e é precioso.
Quando achamos que somos grandes leitores temos sempre certezas. Do que é bom, do que é mau, das "intenções" de escrita de cada escritor. Depois começamos a julgar livros por ideias que temos. Não pela leitura real.
Há um vício que me ficou de livreira, que é ter sempre uma opinião sobre todos os livros, um ponto de vista. Muitas vezes, por mais ridículo que isto seja e é, o público precisa disso. Mas está errado, e devia ficar dentro da livraria. Não temos de ler tudo para imaginar que não vamos gostar, mas não podemos ter certezas sobre escritas antes de olharmos para elas, nem que seja de relance.
Quanto mais o tempo passa, quanto mais leio, menos acho que sei. E mais me fascino com os leitores e quero ser como eles. Mas não quero mais ter conversas com quem sabe antes de saber. Porque a leitura é um acto de amor e o amor não se pode disfarçar de sabedoria. Porque a esses a rasteira vem rápida e certeira. E o que é aparentemente inteligência pode passar a pedantismo o que é uma pena.
Cada vez tenho menos pessoas para falar de livros. Cada vez tenho mais livros. Cada vez leio mais e de forma mais dispersa. Os livros são grandes demais para os meus metros quadrados. Mas hão de caber todos cá dentro.

4 comentários:

Hugo Azevedo disse...

http://www.doyoufeelluckypunk.blogspot.com/2012/01/estorias-com-livros.html

Hugo Azevedo disse...

era grande demais para deixar aqui :)

argumentonio disse...

ainda há leitores e dos bons! às vezes, empresta-se um livro e depois de lido e devolvido começa a fazer falta ao leitor!! que o vai comprar... chega a ser estranho, comprar-se um livro já lido, sem ser para oferecer, isto é, sem ser para oferecer a alguém, digo, a outrem!!! e assim reaprendemos a noção de amor à leitura e aos livros... é que saber não chega ;_))) invente-se metros quadrados ou mesmo cúbicos, eis uma via de evolução...

Maf disse...

Abrir mão do que se ama. Sem dúvida uma aprendizagem e aprender até morrer.