quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

a melancolia escreve?

há assuntos recorrentes, seja em conversas sérias seja na reinação com os amigos escritores. este é um deles.
começo já por ser suspeita porque dediquei o primeiro livro que (não) escrevi à melancolia. para verem que terei de sair um bocado da minha realidade para conseguir pensar bem sobre isto.
será que um bom escritor não pode ser feliz? será a felicidade inimiga da criatividade?
vamos primeiro a factos (sim, muita gente move-se a factos científicos por isso venham eles). há realmente um grande número de escritores que se suicidou e é ainda maior a lista de escritores com perturbações mentais. para além disso as doenças mentais sempre tiveram uma relação estreita com a criatividade e a criação.
depois há outros factos menos exactos mas que são os que observo. a felicidade leva-nos para uma realidade mais quotidiana. torna-nos mais confortáveis e apaziguados com a nossa realidade. para além disso torna-nos mais predispostos ao contacto humano e social. a melancolia e a tristeza (que, atenção, não são de todo a mesma coisa!) levam-nos a um questionamento constante, o questionamento leva-nos à necessidade de olharmos para dentro, de nos tornarmos um novelo enrolado para dentro, e a escrita, em última instância (excluindo escritas que agora vou fingir que nem existem) vem dessa necessidade de verbalizar um questionamento interior. a escrita criativa entenda-se.
não vou fazer declarações preto no branco porque não é o meu género ou não quero que seja. mas a melancolia e o estado de questionamento estão definitivamente ligados a uma escrita que cumpre esse propósito de questionamento.
se podemos ser felizes e escrever? podemos, claro e muitos podem fazê-lo e fazem-no. mas o exercício da escrita será muitas vezes, nesses casos, muito mais cansativo e doloroso porque teríamos sempre de forçar esse questionamento melancólico.

(antes da chuva de pedras volto a referir que falo apenas de um tipo de escrita, que não preciso de dizer qual é, vocês são espertos)


"Even as adults, some writers take the easiest route through life—avoiding risks, playing it safe, and being nauseatingly wholesome. Can they be great writers? Sure... but only if they want to write that marketing copy for a yogurt company. Being a great writer in the sense that you understand the intricacies of grammar and are able to convey your thoughts with clarity is different from being an outstanding storyteller. Being a storyteller requires you to truly live, to go out on the edge, to deal with the pain when it comes, to fight through the sadness, to embrace the joy, and to come out the other side with amazing stories to tell. "

(este parágrafo, ilustração e tudo o que me fez pensar nisto aqui, neste artigo. sublinhados meus)

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