José Donoso é o segundo livro sacado do baú e na verdade é sacado muitas vezes. José Donoso é um escritor chileno e por isso é um dos escritores de que falo no Curso de Literatura Hispano-americana (já com nova edição a espreitar).
Este livro conta uma hisória sem data nem local. Podemos imaginar, pelas descrições, que estamos algures na América Latina, ali pelo início do século passado.
Numa casa de campo passam férias vários casais de uma mesma família com os seus filhos, todos primos ou irmãos entre eles, com idades que vão, sensivelmente, dos 4 aos 17 anos. de manhã os pais saem e deixam as crianças sozinhas. é aí que entramos num não-tempo, apenas dominado pelas crianças e pelo seu entendimento que faz com que aquele tempo que passam sozinhos se estenda por aquilo que parecem ser muitos dias. as crianças, sozinhas com os empregados da casa, organizam-se anarquicamente e de uma forma tão selvática como natural, sempre com o lado de lá do muro da casa como o local proibido e desejado. assistimos nesta organização e vivência anárquica ao desabrochar de pulsões eróticas e violentas, num ambiente febril que se vai enevoando e tornando intransponível. desengane-se quem espera uma história com uma confortável lógica final, este livro constrói-se em espiral e uma vez lançados os dados da auto-gestão e total autonomia do controlo do espaço pelos miúdos dificilmente será possível voltar à ordem estipulada. uma metáfora? claro. e uma metáfora do caraças.
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