segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

criatividade na primeira pessoa

já aqui disse muitas vezes que penso muito. saio de casa sozinha ao fim de semana e ando a pé a ouvir música. penso no sentido da solidão (assunto para outro texto). penso no que gostaria de estar a fazer se não estivesse ali. e hoje pensei como muitas vezes penso que a vida tem de ser um bocadinho mais do que isto. e pela primeira vez isso aconteceu-me numa altura de conforto. o que normalmente não acontece.
passo os dias apaixonada. passo os dias a ler, a escrever, a pensar. a pôr o LEVA a andar. a jantar com amigos, a pôr a minha casa bonita. a estar com a família, a atravessar o rio para os ver, ou a ir aos subúrbios. mas há uma coisa que nunca faço, nunca. ser criativa. tenho muita confiança em muitas áreas da minha vida mas não tenho nesta. tenho muito medo de que a minha criatividade faça apenas sentido para mim. na entrevista que dei pelo LEVA ao DN perguntaram-me como ia conseguir levar isto avante se ia ser como ter outro emprego. pensei que não custava nada, que com todas as horas que dou a isso, aos cursos e a tudo o resto de que falei sobra-me tempo e tempo e tempo. onde sou feliz a olhar para a parede, mas que posso encher com essa criatividade.
e lembrei-me do boris vian. do espectáculo que estava a construir para o boris vian. e lembrei-me da vontade gigante de voltar a estar num palco, não no sentido de lá estar como um produto acabado mas no sentido da construção. quem já fez teatro comigo sabe que construo o espectáculo como um todo estético antes de pensar nas palavras. penso nas roupas e nas maquilhagens, na entrada, no cenário, nas salas, no público. porque um espectáculo constrói-se como um todo desde o início. eh pá arrisco tanto a ser agora muito pirosa mas até senti fogo de artifício dentro da cabeça, do estômago e do coração. o boris vian. não é uma peça de teatro. é um espectáculo onde mostro quem ele foi, com cenas e textos e músicas dele. interrompi a construção deste espectáculo quando vim morar para aqui, precisei de enfiar a cabeça também dentro de caixotes (malino 2012). e hoje, quando preparei a mochila para as minhas deambulações pus lá o meu querido boris. e a cabeça a repetir ena pá ena pá ena pá.
já tenho alguma coisa feita mas falta muito trabalho, muitas leituras, muitas pesquisas mas ele vai chegar. faço esta parte mais sozinha para que ninguém me faça desistir. depois pego nos meus miúdos e vamos todos subir ao palco e vamos borisvianar. vamos borisvianar. vamos borisvianar. vamos borisvianar. ena pá.

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