já aqui falei do Leandro Morgado e dos seus espectáculos. no passado
dia 1 de março o Leandro esteve no Villaret com o seu espectáculo
Status, uma apresentação única de um espectáculo que não é novo, mas que
foi repensado e revisitado, numa sala praticamente esgotada, mais de 200 pessoas. um espectáculo de comédia, slam poetry,
música, magia. é quase redutor dizer do que é o espectáculo do Leandro,
porque aquilo que ele faz é único e é aqui que começa a genialidade do
resultado final. o primeiro indício da qualidade do que vimos ali é
mesmo o facto de o Leandro ter criado um conceito - um tipo de
espectáculo que não existe e um conceito para cada um dos espectáculos. e
um (duplo) conceito que funciona (duplamente). e passo a explicar. o
Leandro cria um conceito do qual vai falar em cada espectáculo. neste
caso o conceito era o Status. depois durante meses estuda o conceito,
pensa sobre ele, devora livros, documentários. e pensa muito, reflecte,
fala sobre aquilo, procura opiniões. depois pensa numa forma de expôr
aquele conceito no palco com piadas, magias, poemas, canções. mas o mais
importante é que quando assistimos a um espectáculo destes não estamos
ali (só) para rir, ou para ver magias, ou ouvir música. o Leandro cria
connosco um diálogo. fala connosco, conta-nos o que pensa sobre o
assunto, o que o fascinou, o que o encanitou, ridiculariza o que é de
ridicularizar. o espectáculo torna-se num espectáculo inteligente, o
nosso riso torna-se um riso inteligente. saímos de lá mais cheios, mais
ricos, mais críticos. e bem dispostos. não há piadas fáceis, não há
caminhos fáceis no guião do Leandro. os meses de trabalho notam-se e
sentem-se a cada minuto. e, para além disso, o público reage sempre de
forma positiva, a sala do Villaret esteve quase 2h30 ao rubro, sem
perder energia, porque o Leandro comunica de forma notável com o público
sejam 5 pessoas ou 250 pessoas. ele compreende o público, enquadra-o no
espectáculo, e nós vivemos o que vemos ali, em absoluto, ao mesmo tempo
que ele.
o espectáculo a que assistimos ali está
muitos metros a cima de qualquer espectáculo de magia, stand up, ou slam
a que já assisti. está porque é trabalhado, pensado, porque tem um
objectivo. o Leandro tem um objectivo comunicativo muito específico
quando cria os espectáculos que cria. e a forma como esses objectivos
são passados para o público e como funcionam torna-os únicos. e o
público percebe isso desde o início.
há ainda um outro lado mais escondido disto tudo. o Leandro chegou onde
está a custo de lutas pessoais e por escolhas que fez. escolheu sempre
caminhos improváveis e arriscados. escolheu não desistir. escolheu que
aquele era o objectivo dele e escolheu contornar todas as dificuldades
para o atingir (e não são poucas, e não são espaçadas). e se vocês não
ouviram falar dele não é porque não tem valor para isso, é apenas porque
não escolheu os caminhos fáceis da notoriedade. infelizmente há
caminhos fáceis demais para ganhar visibilidade. ele escolhe não ir por
aí, o que lhe dá mais carácter e confirma ainda mais tudo o que acabei
de dizer. quem o conhece e o vê gosta sempre e sai de lá de peito cheio.
é preciso é chegar lá e esse caminho tem mais brumas do que podem
imaginar.
este ano o Leandro conseguiu a proeza de ir ao Fringe,
em Edimburgo, com um espectáculo novo em que está a trabalhar agora. e
fê-lo com a naturalidade de quem escolhe um objectivo não pondo a
hipótese de desistir dele. mas a verdade é que o Leandro vai pisar o
palco do maior festival do mundo dos seus pares. e talvez este feito
seja difícil de interiorizar no imediato, mas é uma bomba e um passo de
gigante numa carreira que não pára de prometer. e o meu bilhete está
comprado, claro, vou estar na primeira fila a aplaudir o artista e a
minha pessoa, porque há trabalhos que têm de ser reconhecidos. o
trabalho artístico e a pessoa rara que ele é.
há
só um "problema" se virmos muitas vezes o trabalho do Leandro.
tornamo-nos muito mais críticos com tudo o resto. todos os comediantes e
mágicos e slammers ficam sempre aquém. o Leandro apura o nosso sentido
crítico e a nossa exigência, e isso, infelizmente já é muito raro. e
como ninguém faz este tipo de espectáculo, os outros ficam apenas a ser
uma fatia do que ele é. um bem haja por isso Leandro. és o maior.
o site
o blog
o facebook
Sem comentários:
Enviar um comentário