já aqui escrevi sobre o ser livreira e vou tentar não me repetir. tenho reflectido muito sobre a minha postura perante o trabalho e tenho pensado num sentido para isto que ando aqui a fazer. é incrivelmente assustador termos um trabalho com o qual não nos identificamos mas que por pagar relativamente bem, a horas, com um bom horário e ter uma situação estável se torna um trabalho a manter. eu sempre tive uma postura muito emotiva perante o trabalho e sou incrivelmente ambiciosa. preciso sentir que há um sentido para o que faço. e do LEVA aos cursos, aos eventos, até aos textos que tenho escrito consigo complementar de forma muito eficiente esta lacuna. mas como afirmei tantas vezes a estabilidade e a normalidade fazem-me alguma comichão por isso estes questionamentos são constantes. "isso é muito bom" dirão alguns. sim, pode ser, mas é um sofrimento muito grande muitas vezes. se tivesse 20 anos e estivesse a começar um percurso talvez não me sentisse assim. quando desisti de ser professora e por isso não terminar o estágio profissional fiquei de repente desempregada e sem qualquer visão do que poderia fazer a partir daí. mas não tinha obrigações, rendas para pagar, objectivos a curto prazo. o início dos vintes é a época de possibilidades e a energia é inigualável e os questionamentos muito mais inconsequentes.
muitas vezes penso no que gostava de fazer se pudesse escolher sem as condicionantes que me deixam neste papel em que vivo hoje. e acho que escolhia ser livreira. já fui, sim, com as condicionantes (que são gigantes) que descrevi no link que disponibilizei em cima. mas se sacarmos o melhor do que isso é fico com o emprego perfeito. ser a ponte entre os livros e as pessoas, estar em contacto com livros desconhecidos todos os dias, saber que cada pessoa que se dirige a mim naquele espaço está a pensar os livros.
por isso sinto-me tão encaixada a preparar o Encontro Livreiro (que não é de livreiros, insisto, mas de gentes dos livros) e com tanta vontade de preparar o Dia das Livrarias que me passou tão ao lado o ano passado. portanto decidi viver como livreira sem livraria. sou livreira, pronto. faço quando posso a ponte entre as pessoas e os livros, tento saber as novidades e os livros desaparecidos, passo o dia no meio deles. portanto serve este texto para vos informar que a partir de hoje a minha profissão é livreira, que se querem ser preconceituosos comigo é a essa caixa que têm de recorrer, e que se em papéis oficiais virem outra profissão é porque o mundo tem pouco sentido de paixão e, disparate dos disparates, a nossa profissão é ainda aquela que nos paga as contas. e para que isto faça ainda mais sentido vim escrever este texto para uma livraria. para verem que estou muito convicta desta minha decisão.
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