quarta-feira, 9 de outubro de 2013

sobre o surrealismo

A poesia não necessita de "ser salva" porque o que nós entendemos por poesia não necessita de espécie alguma de salvação. Todo o acto de revolta ou de rebeldia, todo o processo de violentar "a natureza" e de desconhecer o direito e a moral é para nós poesia embora não se plasme, não se fixe, não se possa generalizar - e aqui está, implícita, a recusa terminante de amarrar o poeta a uma técnica, seja ela qual for, mesmo a mais actual, a mais opurtuna, porque, precisamente, o que o distingue do homem da técnica é um sentido de não oportunidade, de inoportunidade, que lhe advém de uma clarividência total e duma insubmissão permanente ante os conceitos, regras e princípios estabelecidos. Com isto não queremos dizer (Deus nos livre!) que o poeta seja um louco, um visionário, mas que, se ele tem de possuir uma estética e uma moral é, sem sombra de dúvida, uma estética e uma moral próprias.
Pedro Oom

“[o surrealismo] nunca vai acabar. Quem leu o André Breton com atenção percebe isso, não só não vai acabar como não teve começo. Claro. A investigação do Breton na literatura e na pintura refere os povos primitivos, os quadros de areia dos índios, as pinturas rupestres, de uma maneira que influenciaram muito depois a chamada arte moderna. A única coisa que o Breton fez foi reunir numa espécie de teoria, ou de filosofia ou de bloco, o que parecia que ao longo dos tempos não fazia sentido. Numa altura chamou-se Romantismo, depois noutra altura chamou-se não-sei-quê, depois outra coisa... Ainda há e há-de haver sempre Surrealismo” 
Cesariny

A actividade Surrealista não é [...] uma simples acção libertadora das coisas que chateiam, mas um golpe fundo de cada vez que é dado na realidade presente. Não é de facto uma simples purga seguida de um dia de descanso a caldos de galinha mas revolta permanente contra a estabilidade e cristalização das coisas. Não é um mero exercício para se dormir melhor na noite seguinte, mas esforço demoníaco para se dormir de maneira diferente.
António Maria Lisboa

O único fim que eu persigo / é a fusão rebelde dos contrários as mãos livres os grandes transparentes.
Cesariny

2 comentários:

eduardo mãos de tesoura disse...

Isto não vai tudo contra um bando de escriturários a brincar aos surrealistas com tesoura e papel na Marquês de Tomar?

rosa disse...

a prever dúvidas dessas escrevi este post antes de publicar os resultados: http://estoriascomlivros.blogspot.pt/2013/10/os-cadaveres-esquisitos.html
se, ainda assim, as dúvidas persistirem poderei explicar melhor, por aqui, por mail, por onde preferires.